terça-feira, junho 08, 2004

A arma secreta da Google? Um exército de Ph.Ds

Ei, não é ciência de foguetes. E não é cirurgia de cérebro. Mas se sua formação envolve qualquer uma delas, você é bem-vindo a tentar entrar para a Google. Entre os funcionários da empresa estão um ex-cientista de foguetes e um ex-neurocirurgião.

O Google tem se concentrado principalmente em recrutar aqueles com experiência no que você poderia esperar: ciência da computação. Fundada por dois quase Ph.Ds. que propositalmente espalharam Ph.Ds. por toda a empresa, a Google encoraja todos os funcionários a atuarem como pesquisadores, gastando 20% de seu tempo em novos projetos de sua própria escolha.

Enquanto nos sentamos em nossos lugares no Coliseu para assistir ao combate entre o mais recente desafiante e a poderosa Microsoft, os previsores verão que a Google tem duas vantagens, uma das quais revelada para a Comissão de Valores Mobiliários: máquinas de lavar roupa são fornecidas pela empresa para uso dos funcionários. A outra, ela não revelou: com uma cultura centrada em Ph.Ds., os co-fundadores da Google, Sergey Brin e Larry Page, reuniram o portfólio mais heterodoxo de capital humano desde que a Microsoft começou a recrutar intensamente os estudantes de mestrado em ciência da computação nas principais escolas, nos anos 80.

A Microsoft conta com 56 mil funcionários, mas seu grupo de pesquisa, composto de 700, é separado. O Google conta com 1.900 funcionários, e nenhum grupo de pesquisa separado, de forma que todos os 1.900, na prática, estão encarregados de "audaciosamente ir onde nenhum homem jamais esteve" (palavras da Google). É difícil não apreciar os riscos da Google.

A motivação dos funcionários está ligada a diversas conveniências e estômagos felizes, ou ao menos é o que parece. Quando o Google deu entrada em seus planos iniciais de lançamento de ações no mercado, em abril, enumerou os benefícios aos funcionários como as máquinas de lavar roupa, refeições gratuitas e consultas médicas nos escritórios da empresa. A empresa alertou os investidores potenciais a "esperar que aumentemos os benefícios em vez de reduzi-los com o passar do tempo".

Andando na direção oposta, a Microsoft disse no mês passado que estava realizando alguns pequenos cortes nos benefícios, amargurando os funcionários, que estão tão cientes quanto qualquer um dos US$ 50 bilhões disponíveis no tesouro da corporação.

Não há disputa: o Google vai ganhar a batalha dos benefícios, com sua academia de ginástica interna, com seu dentista próprio e chef famoso local que já serviu ao Grateful Dead.

Mas nada disto importa. O que supera tudo é a disposição do Google em organizar toda a empresa em torno da idéia de que grandes talentos gostam de trabalhar com outros grandes talentos, investindo em problemas interessantes de sua própria escolha. É o mesmo motivo que leva alguns estudantes de ciência da computação a concluírem o mestrado e então perseverarem por três a cinco anos adicionais pelo doutorado. Ele acarreta em profunda pesquisa original para dissertação, enquanto subsistem com uma bolsa de estudos magra que permite como chef famoso apenas o Coronel Sanders (KFC).

Rajeev Motwani, um professor de ciência da computação de Stanford, disse: "Bons alunos de Ph.D. são extremos em sua criatividade e motivação. Os estudantes de mestrado são igualmente inteligentes, mas não têm o mesmo impulso para criar algo novo". O mestrado leva você onde outros estiveram; o doutorado, onde ninguém esteve antes.

Até recentemente, quando os estudantes de ciência da computação concluíam seu longo treinamento de Ph.D. e saíam para o mundo, eles eram tratados com cautela pelos empregadores da indústria. As empresas americanas tiveram que superar sua antiga desconfiança do intelecto. "Por Que Nunca Contrato Homens Brilhantes", um artigo publicado nos anos 20 em uma revista americana, é uma amostra típica de uma era anterior. Nos tempos modernos, os cientistas da computação são contratados, mas um doutorado ainda pode ser visto como um sinal de falha de caráter, sendo melhor isolar seu detentor em um ninho-de-águia.

A Xerox famosamente reuniu um "dream team" de cientistas da computação nos anos 70, os colocou em uma colina em Palo Alto, Califórnia, e recebeu, em curto prazo, o moderno computador pessoal fácil de usar e a impressora laser. Infelizmente, nem os pesquisadores nem a corporação Xerox tinha idéia de como levar estas criações ao mercado, e a experiência foi um fracasso comercial.

Steve Jobs caçou e contratou avidamente Ph.Ds. durante sua fracassada experiência empresarial na NeXT Computer no final dos anos 80, enquanto esteve fora da Apple. Seu computador NeXT, que ele chamou de "workstation do estudante", foi comercializado exclusivamente para estudantes por preços iniciais baixos de US$ 6.500. Mas de forma inexplicável, ele fracassou em tomar conta dos campi. Desde então, não se ouviu mais ele se gabar, como fez na época, de que 70% de seus funcionários da manufatura tinham doutorado. (Reconhecidamente, eles eram poucos, já que a fábrica era altamente automatizada.)

Em 1991, a Microsoft estabeleceu uma organização separada de pesquisa, seguindo a ortodoxia contemporânea, e buscou Ph.Ds. para realizar pesquisa em tempo integral. Mas seu recrutamento em geral continuou voltado para alunos ainda não formados e estudantes de mestrado.

"Nós não somos muito voltados para Ph.Ds.", disse Kristen Roby, diretora de recrutamento da Microsoft em universidades dos Estados Unidos. "Nós acreditamos bastante em contratar potencial."

Mas o Google prefere aqueles que foram treinados para a capacidade máxima no indicador da universidade e que têm experiência em organizar sua própria agenda de pesquisa. A empresa não divulgou dados sobre seus Ph.Ds. por dois anos, mas com base em sua história, o número provavelmente passa de 100.

Em vez de enviá-los para uma instalação separada, de muros altos, a empresa os coloca entre os funcionários normais. Em um típico anúncio de emprego do Google, que pede por grau de bacharel ou mestrado em ciência da computação, se encontra uma frase raramente vista em outros lugares: "Ph.D. apreciado".

Como o Google está em um "período quieto" exigido após a entrega de seus planos de oferta pública de ações, a empresa não dirá uma palavra sobre seus Ph.Ds. ou qualquer outra coisa. Mas basta ir até os principais departamentos de ciência da computação e você sentirá a atração gravitacional irresistível do Googleplex. Em Stanford, por exemplo, o recrutamento pela Google de Ph.Ds. em ciência da computação tem sido, no fraseado diplomático de Motwani, "mais bem-sucedido do que outros", o que ele atribui à massa crítica de talento reunida pela empresa.

Ed Lazowska, professor e ex-diretor de ciência da computação da Universidade de Washington, disse que a política do Google de reservar um dia por semana para que você faça suas próprias coisas é "altamente atraente para funcionários potenciais". O Google conta com tantos Ph.Ds. de sua universidade quanto a Microsoft, mas a Microsoft é quase 30 vezes maior.

Mas como mostrou o fracasso anterior da NeXT de Jobs, o prêmio não necessariamente vai para aqueles com a maior densidade de Ph.Ds. no mapa. O Google está vulnerável ao ataque de qualquer um que conceber uma ferramenta de busca melhor. E a Microsoft pode acrescentar capacidade de busca ao Windows mais rapidamente do que o Google poderá partir para a contra-ofensiva e instalar seu próprio sistema no PC.

A favor do Google está sua prática em colocar imediatamente os novos Ph.Ds. para trabalhar nas áreas exatas nas quais foram treinados -em sistemas, arquitetura e inteligência artificial. Google, a empresa, poderá fracassar, mas o Google, a experiência em recursos humanos, dificilmente será a causa.

A Microsoft ainda precisa abandonar antigos modelos para contratação. Sua principal recrutadora em universidades, Roby, disse que entre os Ph.Ds. em ciência da computação "é difícil encontrar alguém com o desejo de trabalhar em projetos que serão colocados no mercado a cada 24 ou 36 meses".

A intenção dela é distribuir o ritmo acelerado de ciclos de desenvolvimento de produto na Microsoft. Mas a idéia do lançamento de software em intervalos medidos em anos, queimado em um CD-ROM, estampado com um novo número de versão e enfiado em uma caixa, é tão relevante para as melhorias contínuas do site da Google quanto um cartão perfurado. Nem é justificada empiricamente a noção de que os Ph.Ds. são inadequados para o ritmo punitivo do dia de trabalho corporativo.

Quando o cone de silêncio for retirado, pergunte a qualquer um na Google, começando pelo executivo-chefe: Eric Schmidt, Ph.D., ciência da computação.

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