terça-feira, outubro 05, 2004

O melhor amigo de Bill Gates*

É curioso como nos dias de hoje, em plena era da informação e das revoluções tecnológicas, ainda seja difícil dialogar sobre Linux sem que a conversa escorregue para o lado dogmático de que o Linux é bom porque é bom e o Windows é ruim porque é ruim. Digo isso,
principalmente, porque jogo no mesmo time do Pingüim, apenas, talvez, com visão estratégica um pouco diferente de boa parte da comunidade.

Tem certa dose de razão quem diz que não devemos comparar os sistemas Linux e Windows, pois são sistemas com filosofias diferentes. Concordo em parte com isso. Acho que as comparações podem ser feitas, apenas o risco de cairmos no subjetivismo do gosto pessoal é muito grande. É muito parecido com o que ocorre no setor automobilístico. Para comprar um carro costumamos reunir uma série de dados levando em conta preços, potência do motor, economia de combustível, autonomia e opcionais. Mas na decisão final acaba sempre
prevalecendo a preferência pessoal por determinado estilo e design.

Por outro lado, sempre que formos falar sobre Linux, suas características e até mesmo sua filosofia, é inevitável fazermos algumas comparações. Faz parte da condição humana trabalhar com referências. Eu, particularmente, gosto muito de analisar as coisas amparado em referenciais estatísticos.

Me corrijam se eu estiver errado. O Windows está em 95% dos computadores do Mundo por 2 grandes motivos:

1) É grátis.
2) É fácil e amigável.

Oooppss !!?? Windows é grátis ???

Praticamente
sim!

Vejam bem!

Basta ir em qualquer camelô de qualquer cidade média do Brasil e você pode comprar um CD com WinXP última versão por cerca de R$ 10,00 – R$ 15,00, o mesmo preço de uma revista com uma distribuição Linux qualquer. A situação se repete com todos os outros pacotes ou programas populares.

Ou alguém vai dizer que não sabia disso!!??

Vou mais longe. O próprio Bill Gates sabe disso e, todos os dias, em suas orações, agradece que as coisas sejam assim na América Latina, África, Ásia e também em alguns nichos mais discretos do primeiro Mundo.

Quer melhor campanha publicitária que essa? Divulgação em nível Mundial e a custo zero. O lucro vem das corporações, empresas, organizações governamentais e não governamentais, enfim, dos lugares onde as coisas, por força de lei, precisam andar na linha. É claro que a pirataria doméstica é ilegal e imoral, mas, neste caso, a relação custo/benefício para fiscalização e moralização seria extremamente desvantajosa sob todos os
ângulos que se queira analisar.

Resumindo, do ponto de vista meramente econômico não existe competição entre software
livre e software proprietário. Para efeito prático, ambos encontram-se em igualdade de condições. Do ponto de vista ético, é claro, as coisas mudam de figura. Mas, convenhamos,
ética é artigo raro neste planeta. Se valesse a ética eu não tenho a menor dúvida que o Linux estaria rodando em 95% dos computadores do Mundo. É por isso que Bill Gates ama todos os
piratas do Mundo.

Acho fundamental que a comunidade Open-source leve este fator em conta. Não faz sentido
apegar-se ao falso trunfo de que o Linux é gratuito e o Windows custa caro. Essa vantagem é falsa. Devemos buscar outras explicações para a a enorme popularidade do Windows em
oposição ao Linux. É preciso investigar outras alternativas estratégicas para promoção e divulgação do Tux. É aqui que entra o motivo (2), Fácil e Amigável. Esse é o “X” da questão.
Não importa quantas virtudes o Linux ofereça em termos de segurança, confiabilidade e estabilidade. Isso é muito bom, mas vale só na rede corporativa ou no micro do aficionado. No micro do usuário comum o que importa é o baixo custo (igual vale lembrar) e a facilidade de uso. Se o Windows fosse menos fácil e amigável que o Linux, eu também não tenho a menor
dúvida que o Pingüim seria o Rei do “software”.

Acho que é pura perda de tempo compararmos Linux e Windows em qualquer outro aspecto que não seja a facilidade de uso. É só isso que conta. É pura utopia querer que o Linux se expanda fora desta premissa.

É neste ponto que venho “brigando” com a comunidade Linux. O pessoal está muito apegado aos aspectos de segurança, estabilidade e controle total sobre o sistema instalado. Isso só é relevante para uma pequena minoria. A imensa maioria quer o mel na sopa, isto é, um sistema que faça quase tudo sozinho e na hora que der pau aperta-se o botão de On/Off e ponto.

É aqui que está a grande sacada que tenho a impressão que a comunidade não quer ver. Onde é que está escrito que o Linux não pode satisfazer a Gregos e Troianos? O que impede que o Linux não seja muito mais fácil e amigável, ao mesmo tempo que permita ao usuário avançado e exigente, o controle total da máquina? Por que não unir o melhor dos dois Mundos? Por que ignorar ou menosprezar o maior e verdadeiro trunfo do concorrente?

Isso tem um preço, é claro. O Mundo open-source precisa ser mais unido e menos individualista. Faz-se necessário uma maior padronização. Faz-se necessário maior compatibilidade entre as distribuições. Faz-se necessário maior união. Enquanto
houverem tantas distribuições quanto usuários; enquanto houver a apologia do obscuro editor “vi”; enquanto houver a proliferação desordenada do imenso arsenal de “how-tos”
escritos no banheiro sobre as coxas, não iremos a lugar algum.

Essa é a realidade nua e crua. É por isso que o Bill Gates também ama e agradece a todos os fanáticos por Linux.