segunda-feira, janeiro 31, 2005

Apple supera Google como principal marca do mundo

A Apple superou o Google como principal marca do mundo em 2004. A informação é de uma pesquisa realizada pelo site Brandchannel.

O levantamento ouviu 2 mil executivos da área de publicidade. A surpresa ficou por conta da rede de televisão árabe Al-Jazira, que entrou na lista das cinco principais marcas do mundo.

A Apple, cujo aparelho de música digital substituiu o Walkman da Sony como dispositivo portátil de áudio, ficou no topo da lista global e da América do Norte. A companhia que lançou o iPod há três anos, vendeu 10 milhões de unidades do aparelho.

"A Apple fez um trabalho extraordinário em inovação, tecnologia e design. O iPod é o que colocou a Apple na liderança", disse, o editor da Brandchannel, Robin Rusch. Na lista das cinco principais marcas do mundo aparecem pela ordem: Apple, Google, a fabricante de móveis sueca Ikea, a rede de cafeterias Starbucks e a Al-Jazira.

orginal: http://informatica.terra.com.br/interna/0,,OI463923-EI553,00.html

sexta-feira, janeiro 28, 2005

E assim vêdes, meu Irmão, que as verdades
que vos foram dadas no Grau de Neófito, e
aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor,
são, ainda que opostas, a mesma verdade.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Jobs x Gates

"Se Jobs é um inovador com senso de estilo, Gates é um disseminador com senso de oportunidade."

ESTADO S.PAULO - 17/01/2005

EPIC 2014

http://www.robinsloan.com/epic

In the year 2014, The New York Times has gone offline. The Fourth
Estate's fortunes have waned. What happened to the news ? And what is
EPIC ?


"Simplismente Incrivel!!!"

terça-feira, janeiro 18, 2005

Mulheres são menos aptas para ciências, diz presidente de Harvard

O presidente da Universidade de Harvard causou polêmica entre acadêmicos ao sugerir que as mulheres têm menos capacidade em ciência e em matemática do que os homens.

O ex-secretário do Tesouro americano Lawrence Summers disse que um sexo supera o outro devido a características genéticas, e não somente por experiência, segundo informações do jornal Boston Herald.

Vários convidados deixaram o local da conferência de que Summers participava depois de ouvir os comentários.

Summers disse depois que a falta de acadêmicas mulheres se devia também aos deveres maternos, o que dificultaria o trabalho de 80 horas por semana necessário para pesquisas.

Provocação

Summers disse que a teoria de que os homens são naturalmente mais capazes que as mulheres em ciências é baseada em uma pesquisa, e não em sua opinião pessoal.

Meninos tiram melhores notas que meninas, e, segundo ele, essa diferença deveria ser investigada.

Richard Freeman, organizador da conferência que aconteceu no Escritório Nacional de Pesquisa Econômica em Cambridge, Massachusetts, disse que Summers tinha recebido instruções para ser provocativo.

Mas Nancy Hopkins, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, disse que, se não tivesse deixado o local antes do final da conferência, "teria desmaiado ou vomitado".

"Minhas considerações foram mal interpretadas sugerindo que eu disse que falta habilidade para as mulheres conseguirem alcançar sucesso níveis altos da matemática e da ciência. Eu não disse isso, e nem acredito nisso", disse Summers.

"Eu tenho um compromisso ao progresso das mulheres nas ciências, e todos nós temos um papel crucial em acelerar esse progresso até o final."

Ele adicionou que "quanto mais trabalharmos para pesquisar e entender a situação, são melhores as oportunidades para um sucesso de longo prazo".

Summers é presidente de Harvard desde 2001, tendo feito parte anteriormente do governo do ex-presidente americano Bill Clinton.

original: http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u38850.shtml

terça-feira, janeiro 11, 2005

Mais milho aos porcos

original: http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=3196

falei da desmoralização do título de Doutor que, entre nós, se deve à universidade brasileira, ao distribuir doutorados a torto e a direito, como quem joga milho aos porcos. Não faltou quem protestasse. Que quem jogava milho aos porcos era a universidade francesa, com seus diversos doutorados, o Dr. Ingénieur, o Doctorat d'Université, o Doctorat de IIIe Cycle e o famigerado Doctorat d'État.

Pode ser. De qualquer forma, o título pelo menos corresponde a um esforço acadêmico e não é atribuído a qualquer rábula só porque é juiz ou fez curso de Direito.

O missivista considera que o único doutorado francês válido seria o Doctorat d'État. "Um doutorado na França é conhecido por doctorat d'Estat (sic!) e esse sim é equivalente ao doutorado no Brasil. Lá existem vários tipos de doutorado, a maioria pode ser realizada em no máximo dois anos, à exceção do doctorat d'Estat (resic!), cuja duração é equivalente aos dos outros países - uns cinco anos. Quase todos os nossos intelectuais de esquerda fizeram um curso Troisiéme Cycle na França e se dizem doutores".

O ilustre especialista em doutorados - que escreve sob pseudônimo - sequer sabe redigir corretamente a designação do título. Também ignora que o Doctorat de IIIe Cycle se faz em quatro - eventualmente cinco - anos e que o famigerado doctorat d'Estat, como ele grafa , era feito em dez ou mais anos. O Doctorat de IIIe Cycle sempre foi reconhecido como doutorado em todos os países europeus. O d'État era tido como mais uma bizarrice dos galos. Distorção da universidade francesa, servia como placebo ao desemprego, ao mesmo tempo que mantinha o doutorando afastado por uma boa década do mercado de trabalho. O candidato ao título desenvolvia teses monumentais, às vezes de quatro ou cinco volumes, que nem mesmo a banca julgadora lia na totalidade. Tais calhamaços ficavam entregues às traças e à poeira nas bibliotecas e a universidade francesa sequer percebia que delas poderia tirar algum lucro. Exportando para a Holanda, por exemplo, para fazer diques.

Com a arrogância que sempre lhe foi intrínseca - e para proteger a guilda de seus doutores - a USP só reconhecia como doutorado francês esta enfermidade gálica. O governo Mitterrand tomou consciência desta perversão acadêmica e a extinguiu. Agora existe apenas Doctorat. Pergunta aos PhDeuses uspianos: qual parâmetro tem hoje a USP para reconhecer um doutorado feito na França? Ou não reconhecerá mais nenhum outro doutorado francês?

USP à parte, todas as demais universidades brasileiras tinham autonomia para reconhecer como doutorado o curso que bem entendessem. A propósito, em meus dias de universidade, falava-se à boca pequena de um certo "doutorado de nordestino". Eram cursos curtos de pós-graduação, feitos muitas vezes na Espanha, que universidades nordestinas não hesitavam em reconhecer como doutorado. Quando meu missivista me fala em "doctorat d'Estat", me pergunto se não será doutor por alguma universidade nordestina.

Por outro lado, doutorado na França ou no nordeste muitas vezes se equivalem. Fui testemunha do caso de um professor gaúcho de sociologia que defendeu tese numa universidade parisiense e não sabia sequer traduzir a menção que lhe foi dada. Recebeu Assez bien e veio comunicar-me a menção, muito orgulhoso, julgando que era algo superior a Très bien. Ora, Assez bien é a mais baixa das menções, que a banca confere ao doutorando por comiseração. O Dr. em questão, que sequer conhecia um francês elementar, como era de esquerda, teve seu título reconhecido pela UFRGS.

Um outro leitor me adverte que não citei o caso de doutorandos já de idade provecta, que obtém o título e imediatamente se aposentam. Citei sim, mas em crônica antiga, quando falava de outra distorção nossa, a dos mestrandos carecas. "Entre as muitas anomalias da universidade brasileira - escrevi então - estão os mestrandos quarentões. Aquela iniciação à pesquisa, pela qual o candidato deveria optar tão logo terminasse o curso superior, é adiada para uma idade em que do acadêmico já se espera obra consolidada. Pior mesmo, só os doutorados de terceira idade. Marmanjos de cinqüenta e mais anos, em idade de aposentar-se, postulando um título que só vai servir para pendurar junto com as chuteiras. (...) Mestrado não é para carecas. Já um doutorando, este deveria defender sua tese no máximo aos trinta e poucos, para que sua experiência em pesquisa possa ser útil ao ensino e à sociedade. Que mais não seja, é patético ver um homem já maduro humilhando-se, ao tentar iniciar-se em metodologias que devia desde jovem dominar. Na universidade brasileira, o doutorado nem sempre é visto como início de uma carreira, mas como louro a coroar a calva do acadêmico quando este está prestes a usar pijamas. Quem paga tais vaidades senis? Como sempre, o contribuinte".

Em meio a isso, leio manchete na Folha de São Paulo da semana passada:

Plano prevê dobrar nº de doutores no país

Diz a linha fina:

Documento da Capes prevê investir R$ 3,26 bilhões em seis anos para passar de 8.000
para 16 mil titulados ao ano.


Em suma, o Plano Nacional de Pós-Graduação apresentado pela Capes ao ministro da Educação, Tarso Genro, propõe a aplicação nos próximos seis anos de R$ 1,66 bilhão a mais em bolsas e fomento de pós-graduação, o que permitiria passar dos atuais 8.000 doutores titulados por ano para 16 mil em 2010. O plano "será acolhido integralmente", disse Genro.

Isto é, não bastassem os jornalistas e engenheiros formados que trabalham de taxistas ou fiscais do trânsito, daqui a uns cinco anos teremos doutores conduzindo táxis ou aplicando multas nas ruas. Mais milho para os porcos. Sempre às custas do contribuinte. O que me lembra um pouco Fidel Ruz Castro - aliás Dr. Honoris Causa pela Universidade Federal de Santa Catarina - respondendo às acusações de que em Cuba até as universitárias tinham de prostituir-se:

- Nada disso. Ocorre que em Cuba até as prostitutas têm grau universitário.

Doutores

original: http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=3093


Um leitor me pergunta o que penso, antes que suma da memória das gentes, sobre mais um desses casos que só ocorre no Brasil. O assunto é antigo, mas vamos lá. Em Niterói, a 15 km do Rio de Janeiro, o juiz Antônio Marreiros da Silva Melo Neto moveu ação de danos morais contra um condomínio e obteve liminar para ser tratado por “senhor” ou “doutor”. A sumidade exige também indenização por danos morais.

Um dia, fiz o curso de Direito. Cinco anos perdidos de minha vida. Não que julgue o ofício inútil, nada disso. Mas já no segundo ano eu sabia que jamais advogaria. Os rituais do ofício, o terno e gravata, isso sem falar na toga, o linguajar arrevesado dos processos, que mais parece gíria de mafiosos para não serem entendidos pela clientela, mais o anel no dedo, tudo isso me afastava da profissão. Uma vez diplomado, para sobreviver, fui vender enciclopédias e contar sabonetes e shampoos em farmácias e supermercados, para a Sidney Ross. Me sentia melhor do que chamando rábulas de Dr. e juízes de Meritíssimo. Um tio me presenteou com anel de rubi. Foi muito útil para botar no prego da Caixa Econômica, nos dias de maiores apertos.

Mais tarde fiz um doutorado na Sorbonne. Não por exigência universitária ou profissional, mas por diletantismo. Queria viajar, conhecer Paris, a França, a Europa, ilhas gregas e canárias, e não tinha grana sequer pra curtir Montevidéu. Como viajar sem grana? É simples. Pede-se uma bolsa. Qualquer professor universitário sabe disso. Sem ser professor universitário, pedi, levei e fui. Não tinha a mínima idéia do que fosse um doutorado, uma tese ou mesmo literatura comparada. Me enfurnei nas bibliotecas, percorri sebos e livrarias, catei teses e ensaios de literatura comparada. Na época, já trabalhava com jornalismo, e para um jornalista não é um desafio maior elaborar uma tese na área literária.

Defendi minha tese, em circunstâncias um pouco insólitas. Na hora da defesa, havia algo entre 50 e 60 mulheres – e um só varão. Este dado é importante, pois suponho que foram elas que me salvaram. Minha tese era um insulto aos acadêmicos, pois eu não citava teórico algum. Quelle est votre méthode? – perguntou-me uma doutora argelina que participava da banca. Ma méthode – respondi serenamente – c’est la cristaldesque. Não vim a Paris para pensar com a cabeça de terceiros. Naquele instante, senti que eu mesmo havia decretado minha decapitação. A banca levou meia hora para tomar uma decisão, o que é um tanto exagerado, já que toda defesa de tese é puro teatro e nada mais que teatro.

Voltaram do conciliábulo e a menção me surpreendeu: Très Bien. Pareceu-me que a banca não ousou decepcionar aquele auditório florido, et me voilà Docteur es Lettres. Às amigas que me honraram com suas presenças, minha eterna gratidão.

Eu estava tão por fora do mundo acadêmico, que sequer sabia que um doutorado me habilitava a lecionar. Eu fora a Paris curtir seus queijos e vinhos, mulheres e arquitetura, jornais e literatura. Meu diploma, sequer o apanhei. Quando fui buscá-lo na secretaria da Sorbonne, as funcionárias ficaram pasmas. Mais non, Monsieur, c’est pas comme ça. Eu deveria preencher um formulário, enviá-lo pelo correio e esperar o diploma em casa. Ora, eu estava partindo de Paris, havia largado meu apartamento e ainda não tinha endereço fixo no Brasil. Tal despropósito me irritou tanto, que até hoje não peguei meu diploma. Tenho apenas um certificado de que ele existe, em algum arquivo morto, au bord’elle, la Seine.

Eu, Doutor pela Université de la Sorbonne Nouvelle – Paris III (não confundir com a Sorbonne, que não existe a partir de 1968), posso afirmar serenamente: doutorado é uma bobagem que qualquer pessoa medianamente dotada é capaz de cumprir. Tese pode ser uma besteira qualquer. Se aprovada por uma banca legalmente constituída, dá direito ao título, por absurda que seja. E não foram poucas as defesas de teses absurdas que assisti em Paris.

O fato me leva a um incidente um tanto insólito de minha vida. Por circunstâncias que ora não vêm ao caso, fui levado certo dia ao que se chama de barras dos tribunais. Minha advogada já foi me alertando: ao dirigir-me ao juiz, não cometesse a gafe de chamá-lo de Dr. No tribunal, o juiz se ofende se for chamado de Dr. Só aceita Meritíssimo. Bom, compareci ante o dito cujo. Em Roma, como os romanos. E os meritíssimos e doutores se cruzavam pelos ares a todo instante no tribunal, como se eu estivesse em outro universo que não o do comum dos mortais. E eu – que era o único a ter doutorado naquela sala – recebi o tratamento nada nobilitante de “indigitado réu”.

Enfim, o Merítissimo foi uma mãe para mim, tudo acabou bem e, como dizem os franceses, c’est bien tout ce que finit bien. Mas a situação constituía uma profunda ironia. Não me concederam sequer um doutorzinho, nem mesmo em função de meu curso de Direito. Muito menos pelo doutorado que defendi em Letras Francesas e Comparadas, na Université de la Sorbonne Nouvelle. Eu era apenas o indigitado réu.

Dadas as exigências de carreira no Brasil, estão sendo formados doutores às pencas, a tal ponto que as bibliotecas já não têm espaço para abrigar tantas teses. Pessoalmente, tenho uma sugestão. Poderiam ser exportadas para a Holanda, para fazer diques, e assim teriam algum sentido. O título de Dr – falo do doutorado defendido após quatro ou cinco (supostos) anos de pesquisa, vulgarizou-se a tal ponto que já não distingue mais um pesquisador sério de um escroque qualquer. Sem falar que diversos sites já oferecem, a preços módicos, dissertações de mestrado ou teses prontinhas a quem se dispuser a comprá-las. Aliás, Umberto Eco, em seu livro Como fazer uma tese, cinicamente já escrevia: doutorado é um título que dá direito a um patamar mais alto de salários. Se você não conseguir elaborar a sua, plagie.

Que um médico ou dentista sejam chamados de doutor, entende-se. É antiga tradição, inerente ao ofício. Mas quando um rábula entra com ação para ser chamado de doutor – fora dos tribunais, quando nem lá mesmo se justificaria o título – estamos ante a desmoralização cabal da profissão. Um juiz já não vale pelo que vale, mas pelo Dr com o qual exige que lhe tratem. Este senhor é um pobre diabo, que sequer consegue impor-se a um porteiro por sua personalidade, e exige ser tratado com a reverência que lhe conferem os cúmplices de sua guilda privada.

A piada é antiga e nada refinada. Mas se adapta ao caso. Um advogado, ao pagar o engraxate que lhe lustrava os sapatos, ouviu do menino:

“Obrigado, doutor”.

- Meu filho, como você sabe que sou doutor?
- Ora, meu senhor, neste país qualquer pé-rapado é doutor.

A desmoralização do título se deve, entre nós, à universidade brasileira, que distribui doutorados a torto e a direito, como quem joga milho aos porcos. Mais um pouco, e ser chamado de Dr será pejorativo. Se já não é.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Sobre Gênios e Loucos

Munch, Van Gogh, Picasso - De muitos artistas sempre se disse que não batiam lá muito bem da cabeça. Pois agora aumentam as evidências científicas de que criatividade e doença mental andam de fato muito próximas

Muitas pessoas já me caracterizaram como louco", escreveu certa vez Edgar Allan Poe (1809-1849). "Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência." Nessa sua suspeita de que genialidade e loucura talvez estejam intimamente entrelaçadas, o escritor americano não estava sozinho. Muito antes, Platão mostrara acreditar em uma espécie de "loucura divina" como base fundamental de toda criatividade.

Uma lista interminável de artistas célebres, parte deles portadores de graves transtornos psíquicos, parece confirmar o ponto de vista do filósofo grego. Vincent van Gogh, Paul Gauguin, Lord Byron, Liev Tolstói, Serguei Rachmaninov, Piotr Ilitch Tchaikóvski, Robert Schumann - o célebre poder criativo de todos eles caminhava lado a lado com uma instabilidade psíquica claramente dotada de traços patológicos. Variações extremas de humor, manias, fixações, dependência de álcool ou drogas ainda hoje atormentam a vida de muitas mentes criativas.

SERÁ MERA COINCIDÊNCIA?


No início do século XX, a busca pelas raízes da genialidade era um dos temas mais palpitantes da investigação psicológica. Cientistas de ponta tinham poucas dúvidas de que certos males psíquicos davam asas à imaginação. "Quando um intelecto superior se une a um temperamento psicopático, criam-se as melhores condições para o surgimento daquele tipo de genialidade efetiva que entra para os livros de história", sentenciava o filósofo e psicólogo americano William James (1842-1910). Pessoas assim perseguiriam obsessivamente suas idéias e seus pensamentos - para seu próprio bem ou mal -, e isso as distinguiria de todas as outras.

Sigmund Freud também se interessou pelo assunto. Convicto de que encontraria "algumas verdades psicológicas universais", analisou vida e obra de artistas e escritores famosos, buscando pistas de transtornos mentais. Mas foi somente a partir dos anos 70 que Nancy Andreasen, psiquiatra da Universidade de Iowa, começou a investigar de forma sistemática a suposta ligação entre genialidade e loucura. Participaram de sua experiência 30 escritores cujo talento criativo havia sido posto à prova na renomada oficina de autores da universidade.

Andreasen examinou essas personalidades à procura de distúrbios psíquicos e comparou os dados obtidos aos daqueles grupos de um grupo de controle: 80% dos escritores relataram perturbações regulares do humor, ante 30% no grupo de controle. Quarenta e três por cento dos artistas satisfaziam os critérios para o diagnóstico de uma ou outra forma de patologia maníaco-depressiva, o que, no grupo de controle, só se verificou em uma a cada dez pessoas. Durante o estudo, dois escritores cometeram suicídio - dado que, segundo Andreasen, não seria estatisticamente significativo. A psiquiatra comprovou pela primeira vez e com métodos científicos que, por trás da suposta conexão entre criatividade elevada e psique enferma, haveria algo mais que o mero e surrado lugar-comum.

Em 1983, Kay Redfield Jamison conduziu um estudo em que obteve resultados claros e semelhantes. Psicóloga da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, ela contatou 47 pintores e poetas britânicos renomados. Seguindo os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), examinou a presença de transtornos de humor caracterizados por fases depressivas.

Segundo o Manual, esses transtornos são marcados por estados depressivos que duram de duas a quatro semanas e prejudicam sensivelmente o cotidiano dos pacientes, que não conseguem animar-se para nada, sofrem perturbações da concentração e do sono e têm pensamentos negativos beirando o desespero total. A presença desses sintomas aponta para o chamado transtorno depressivo maior. Mas, além desse, há também os transtornos bipolares, nos quais fases depressivas são alternadas com picos de euforia - os episódios maníacos. Nesse caso, os pacientes quase não dormem, estão sempre ocupados com alguma coisa, seus pensamentos saltam de um tema a outro e eles atribuem a suas idéias - e, em geral, também a si próprios - grandeza absoluta.

Tais males psíquicos, caracterizados como depressões maníacas, estão entre os transtornos de humor pelos quais Jamison procurava em seu estudo. Ela constatou que quase 40% dos artistas examinados haviam requerido ajuda médica alguma vez na vida - taxa 30 vezes mais alta que a verificada entre a média da população. A corporação dos escritores revelou ser a que sofria dos problemas psíquicos mais severos. Um a cada dois poetas já havia recorrido a tratamento psiquiátrico em virtude de depressão ou episódios maníacos.

Na década de 80, Hagop Aksikal entrevistou outros 20 artistas europeus, tendo por base os critérios do DSM. Dois terços deles sofriam de episódios depressivos recorrentes, muitas vezes combinados com os chamados estados hipomaníacos - forma menos pronunciada da mania. Como constatou esse psicólogo da Universidade da Califórnia, em San Diego, metade dos artistas tinha enfrentado depressão em algum momento da vida. Tendência semelhante, aliás, Aksikal já havia observado entre músicos de blues nos Estados Unidos.

Com base nessas pesquisas, Jamison concluiu que o grande número de artistas com diagnóstico de depressão ou de transtornos bipolares já não podia ser atribuído ao acaso. A pesquisadora admitia deficiências metodológicas também em seu próprio estudo - por exemplo, o número demasiadamente reduzido da amostra -, mas a conexão entre instabilidade psíquica e potencial criativo era evidente.

Ruth L. Richards e colegas da Harvard Medical School, em Boston, tentaram abordar a questão de outro ponto de vista. Em vez de saírem em busca de males psíquicos em artistas reconhecidos, inverteram a pergunta: portadores de enfermidades psíquicas seriam particularmente criativos? Eles examinaram a criatividade de 17 pacientes com depressão maníaca manifesta e de 16 ciclotímicos - a forma mais amena do transtorno bipolar -, com base na chamada Lifetime -Creativity Scale.

Nessa escala de criatividade influenciam não apenas os testes relacionados ao pensamento inovador e original, mas também o desempenho criativo nas esferas pessoal e profissional. Os pacientes saíram-se melhor que o grupo de pessoas utilizado para comparação, composto de indivíduos sem qualquer histórico psiquiátrico.

O tipo de transtorno desempenhou aí papel bastante decisivo. Os participantes ciclotímicos revelaram-se muito mais criativos. Além disso, ficaram atrás de seus familiares sem distúrbios psíquicos evidentes, também avaliados. A hipótese aventada pelos pesquisadores foi, portanto, a de que os parentes dos pacientes talvez tendessem à instabilidade psíquica, cuja manifestação neles se daria de forma tão amena que não lhes causaria problemas. "É possível que pessoas com tendência reduzida, talvez até imperceptível, à instabilidade bipolar sejam mais criativas", concluíram os pesquisadores.

Nesse meio tempo, o pensamento aguçado, de criatividade incomum, e a produtividade elevada passaram até mesmo a serem considerados indícios no diagnóstico de fases maníacas. Mas como uma enfermidade tão perturbadora e destrutiva pode incrementar nosso poder criativo? Afinal, normalmente reina o caos entre os maníaco-depressivos, tanto no aspecto profissional quanto no pessoal. Em meio a episódios maníacos, endividam-se, mergulham em relacionamentos duvidosos e aventuras sexuais sem medir as conseqüências. Agressões e até mesmo alucinações integram o quadro. Então, a esse apogeu temporário segue-se sempre o mergulho em depressão profunda.

O psicólogo americano Joy Paul Guilford (1897-1987) definiu criatividade como a capacidade de, diante de um problema, "encontrar respostas incomuns, de associação longínqua". Para chegar a uma idéia original, abandonam caminhos já trilhados e pensam de modo diferente. O intelecto, então, não se aferra à busca de uma única solução correta, mas move-se em diversas direções. Quanto mais fluentes e livres jorrarem os pensamentos, melhor.

São precisamente esses talentos que os portadores de transtornos bipolares exibem em abundância na fase maníaca. Seu cérebro trabalha à toda, despejando idéias nada convencionais. Essa imensa produção está longe de resultar apenas em coisas sensatas, mas pouco importa: a massa de idéias que brota da mente maníaca eleva a probabilidade de que haja entre elas alguns lampejos mentais "genuínos".

O psicólogo Eugen Bleuler, contemporâneo de Freud, via aí o elo procurado entre genialidade e doença mental. "Mesmo que apenas os casos amenos produzam algo de valor, o fato de neles as idéias fluírem com mais rapidez e, sobretudo, de as inibições desaparecerem estimula as capacidades artísticas."

Também para Jamison, o segredo está no pensamento rápido e flexível, bem como no dom de unir coisas que, à primeira vista, não possuem qualquer conexão entre si. O que Bleuler, no passado, só podia supor hoje é confirmado por estudos científicos. Assim, pacientes de hipomania mostram superioridade em testes de associação de palavras: num espaço de tempo delimitado e com uma palavra dada, são capazes de associar quantidade bem maior de conceitos que pessoas em perfeitas condições psíquicas. Dão menos respostas estatisticamente "normais" que as do grupo de controle, mas encontram soluções heterodoxas em número três vezes maior.

Hipomaníacos chamam a atenção também por seu modo de falar. Tendem a fazer uso de rimas e empregam com freqüência associações sonoras, tais como as aliterações. Além disso, seu vocabulário compreende em média três vezes mais neologismos que o de uma pessoa saudável. E mais: nos pacientes em fase maníaca, a rapidez do processo de pensamento traduz-se numa elevação do quociente de inteligência.

Maníaco-depressivos exibem também certas qualidades não cognitivas muito úteis aos artistas. Robert DeLong, psicólogo da Harvard Medical School, pediu a um grupo de crianças, todas com sinais precoces de transtorno bipolar, que fizesse desenhos sobre um tema.
Na comparação com o grupo de controle, não apenas seu nítido e transbordante poder de imaginação chamou atenção. DeLong ficou ainda mais impressionado com a extraordinária capacidade de concentração dessas crianças, que se dedicaram durante horas à tarefa, sem se deixar distrair por coisa alguma. Como resultado, seu brilhantismo revelou-se tanto no desempenho espantoso da memória quanto nos desenhos detalhados.

Energia fabulosa e concentração total caracterizam também as fases criadoras de muitos pintores, escultores, escritores e poetas. Muitos deles varam noites escrevendo ou passam horas sem fim no ateliê, sem dormir.

LIMIAR DA LOUCURA

Nancy Andreasen acrescenta outra explicação: "o sistema nervoso, afinadíssimo", simplesmente perceberia mais informações sensoriais, transformando-as em idéias criativas. Embora sem comprovação definitiva, a psicóloga supõe que a causa seja "um defeito nos processos cognitivos que filtram esses estímulos".

No final de 2003, Shelley Carson, da Universidade de Harvard, e Jordan Peterson, da Universidade de Toronto, descobriram que Andreasen estava certa. Eles recrutaram 25 estudantes que haviam se destacado por seu desempenho criativo extraordinário e, com auxílio de um teste, puderam determinar a chamada inibição latente em cada um deles - mecanismo cognitivo que exclui do fluxo contínuo de dados sensoriais aqueles que a experiência já demonstrou serem de pouca valia. Nos colegas não criativos, esse processo de filtragem inconsciente se revelou nitidamente mais pronunciado.

Em decorrência da menor inibição latente, pessoas criativas acolhem mais impressões de seu entorno. Mas há também o outro lado dessa moeda. "Quando uma pessoa tem 50 idéias diferentes, o provável é que só duas ou três sejam boas de fato", explica Peterson. "É necessário saber diferenciar essas idéias para não submergir em meio a tantas delas. Daí a importância da inteligência e da memória operacional para evitar que as mentes criativas se afoguem numa torrente de informações", conclui.

Será que os pacientes de transtorno bipolar ultrapassam o limiar da loucura por quase sufocar sob a massa enorme de idéias e pensamentos? Para Carson e Peterson, isso é precisamente o que sua experiência deixa claro: "Um grau reduzido de inibição latente associado a uma extraordinária flexibilidade de pensamento pode, sob certas circunstâncias, predispor o indivíduo às doenças mentais ou, sob outras circunstâncias, a façanhas criativas".

Nessa questão, Jamison - que também sofre de depressões maníacas - defende uma tese interessante. Ela acredita que o mergulho recorrente na depressão evita que portadores de transtorno bipolar se percam em pensamentos e idéias obscuras. Indivíduos depressivos - atormentados por dúvidas, insegurança e hesitação - teriam um juízo mais realista das coisas. Seu "mecanismo interno de edição", como Jamison o denomina, operaria com a correspondente sensibilidade, ou seja, verificaria a utilidade das idéias produzidas pela mente hiperativa e excluiria as cores berrantes do excesso. Sendo assim, todas as idéias que, na fase maníaca, se revelam grandiosas, seriam submetidas ao crivo de um extremo rigor crítico.

Já o pioneiro Guilford via o segredo- do pensamento criativo na capacidade de estabelecer um vínculo entre o racional e o irracional, o conhecido e o desconhecido, o convencional e o não convencional. Se, porém, a criatividade brota dessas oposições, espíritos criativos arriscam-se continuamente a ir longe demais com suas idéias e seus pensamentos, ultrapassando as fronteiras do inteligível.

ARTE COMO TERAPIA

Uma rápida visita aos livros de história nos mostra como é tênue a linha que separa a genialidade da loucura. Seja a visão heliocêntrica do mundo de Copérnico ou a teoria da evolução de Darwin, muitos lampejos geniais foram a princípio recriminados como produto de um cérebro doentio. Hoje, porém, ninguém mais duvida da saúde psíquica de tais personalidades.

Mas não são poucos os psicólogos que sustentam que portadores de doenças psíquicas com freqüência trabalham em áreas criativas apenas porque a atividade artística os ajuda a proteger a própria mente da destruição. "A literatura me pegou pela mão e me salvou da loucura", ponderava a poeta americana Anne Sexton (1928-1974), que, em virtude de uma grave psicose, vivia sendo internada em clínicas psiquiátricas.

Criatividade como saída para a crise? Residiria aí o famigerado vínculo entre poder de criação e sofrimento psíquico? O fato de tantos pacientes psiquiátricos se beneficiarem de terapias envolvendo a pintura, a dança ou a música parece confirmar essa hipótese. Contudo, dois fatos não devem ser esquecidos: a maioria dos doentes não demonstra possuir fantasia extraordinária nem criatividade especial; tampouco a maioria dos escritores, poetas, músicos, designers, escultores ou pintores reconhecidos revela-se portadora de algum distúrbio mental.

A imagem excessivamente utilizada e romantizada do gênio maluco desacredita em certa medida o trabalho, o caráter e o estado mental dos que lidam com arte. E o fato de muitos artistas com enfermidades psíquicas terem recusado tratamento, no passado, talvez tenha contribuído para essa visão distorcida. O pintor norueguês Edvard Munch (1862-1944), por exemplo, que era maníaco-depressivo, temia que uma terapia pudesse extinguir seu poder criativo. "Prefiro continuar sofrendo desses males, porque são parte de mim e de minha arte", declarou. Sem ajuda médica, porém, corre-se o risco de que depressões e transtornos bipolares se acentuem com o tempo. Munch teve sorte: estava relativamente bem nos últimos anos de vida. Uma declaração da escritora americana Sylvia Plath nos diz um pouco sobre o sofrimento de artistas vítimas de distúrbios psíquicos: "Quando se tem uma doença mental, ser um doente mental é tudo que se faz, o tempo todo [...] Quando eu era louca, isso era tudo que eu era". Em casa, na manhã de 11 de fevereiro de 1963, essa poeta de extremo talento, vítima de depressão grave, abriu a torneira do gás. Tinha 30 anos.



Vincent van Gogh - histórico de uma doença

Concluída a escola, o jovem Vincent van Gogh vai trabalhar na compra e venda de objetos de arte, primeiro em Haia, depois em Londres. A infelicidade no amor o lança na primeira depressão grave. Seus pensamentos voltam-se para a religião. Passa quatro anos na Bélgica trabalhando como pastor. Ali, ajuda no que pode e luta pelos direitos das pessoas. Contudo, isso desagrada a Igreja, da qual é expulso, fazendo-o mergulhar em nova crise. "Minha única angústia é descobrir como posso ser útil ao mundo", escreve ao irmão Theo, seu mais íntimo confidente.

Somente aos 27 anos, Vincent decide ser pintor. Lança-se ao trabalho com enorme intensidade. Em 1886, vai viver com Theo em Paris, onde sua saúde piora. Começa a sofrer de cãibras na mão esquerda. Passados os acessos, fica perturbado e a memória falha por breves períodos - primeiro indício da epilepsia diagnosticada mais tarde. O gosto do pintor pelo absinto contribui para o agravamento de seu estado. Sabe-se hoje que a bebida contém uma substância que favorece ataques epilépticos e psicoses. Seu temperamento explosivo e as oscilações de humor o tornam persona non grata para vários de seus conhecidos. "É como se fossem duas pessoas: uma delas, de grande talento, culta e sensível; a outra, egoísta e fria de sentimentos", descreve Theo.

No início de 1888, Vincent vai para o Sul da França, "cansado e desesperado", como ele próprio diz. Ali, sintomas de um grave transtorno psíquico manifestam-se com crescente nitidez. Períodos de atividade febril alternam-se com apatia e esgotamento total - sinais típicos de depressão maníaca. Sentindo-se só, pede ao amigo Paul Gauguin que se junte a ele. Juntos, os dois pintores fundam o "Estúdio do Sul". Mas este relacionamento deteriora, culminando numa catástrofe: em dezembro de 1888, van Gogh o ameaça com uma navalha e termina por amputar a própria orelha.

No hospital, o primeiro diagnóstico: psicose grave. O médico Felix Rey também suspeita de epilepsia larvada, em que os acessos convulsivos têm forma bastante amena. Em compensação, imperam outras ocorrências psíquicas e o paciente oscila entre euforia extrema e depressão profunda, acompanhadas de angústia e insônia. Alucinações e mania de perseguição integram o quadro dos sintomas, bem como pronunciada emotividade, que, com freqüência, culmina em solicitude exagerada ou religiosidade extrema.

A epilepsia de lobo temporal é tida como a explicação mais provável para o perturbado estado mental de van Gogh. Rey o trata com brometo de potássio. Passados alguns dias, o artista se recupera. Embora o médico chame sua atenção para os perigos do absinto, o pintor o ignora. Essa é uma das razões para as várias recaídas, que requerem repetidas internações. Seu estado psíquico é tão instável que, em maio de 1889, interna-se espontaneamente no sanatório de Saint Rémy.

O médico da instituição confirma a epilepsia, mas suspende o tratamento com brometo de potássio. Apesar dos episódios de uma grave psicose, van Gogh produz no ano seguinte mais de 300 obras. Depois, muda-se para Auvers-sur-Oise, nas proximidades de Paris. Nos campos ao redor de Auvers, pinta algumas de suas grandiosas paisagens. Em carta a Theo, menciona que gostaria de aumentar sua paleta de cores e pede apoio ao irmão. Três dias depois, o grande artista se mata com um tiro no peito.