terça-feira, março 29, 2005

Projeto de Lula lançará PC barato e software livre

Plano "PC Conectado" pretende promover inclusão digital no Brasil

Desde que assumiu o governo dois anos atrás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou o Brasil em um posto avançado tropical do movimento de software livre.

Buscando economizar milhões de dólares em royalties e taxas de licenciamento, Lula instruiu ministros do governo e empresas estatais a trocarem gradualmente os caros sistemas operacionais produzidos pela Microsoft e outros por sistemas operacionais gratuitos, como o Linux.

Sob o governo Lula, o Brasil se tornou o primeiro país a exigir que qualquer empresa ou instituto de pesquisa que receba financiamento do governo para desenvolver software a licenciá-lo como open source, o que significa que o código de programação dele deve ser aberto e gratuito para todos.

Agora, o governo do Brasil parece prestes a levar sua campanha de software livre para as massas. E, novamente, a Microsoft poderá terminar excluída.

Até o final de abril, o governo planeja colocar em ação um programa muito alardeado chamado PC Conectado, que visa ajudar milhões de brasileiros de baixa renda a comprar seus primeiros computadores.

Se as coisas saírem como pretende o alto conselheiro de tecnologia do presidente, o programa poderá oferecer computadores apenas com software livre, incluindo o sistema operacional, escolhido a dedo pelo governo, em vez de dar aos consumidores a opção de pagar mais pela, digamos, versão básica do Windows da Microsoft.

"Para que este programa seja viável, ele precisa ter software livre", disse Sérgio Amadeu, presidente do Instituto Nacional de Tecnologia de Informação do Brasil, o órgão que supervisiona as iniciativas de tecnologia do governo.

"Nós não vamos gastar dinheiro dos contribuintes em um programa para que a Microsoft possa consolidar ainda mais seu monopólio. É responsabilidade do governo assegurar que haja concorrência, e isto significa dar a plataformas alternativas de software uma chance de prosperar."

A Microsoft ofereceu uma versão mais barata, simplificada, do Windows para o programa. Apesar da decisão final sobre qual será o software escolhido ter sido adiada várias vezes, assim como o lançamento do programa, Amadeu e outras autoridades do governo têm criticado publicamente a proposta da Microsoft, dizendo que a capacidade da versão é muito limitada.

Mesmo assim, a Microsoft ainda não desistiu. A empresa, que se recusou a indicar um executivo para uma entrevista, disse em uma declaração que ainda está "trabalhando no projeto PC Conectado para ver se há uma forma de a Microsoft colaborar".

Segundo o programa, que deverá oferecer incentivos fiscais para os fabricantes de computadores reduzirem preços e um plano generoso de pagamento para os consumidores, o governo espera oferecer desktops por cerca de R$ 1.400 ou menos. Eles serão comparáveis aos que custariam quase o dobro fora do programa.

Os compradores poderão pagar em 24 prestações de R$ 50 a R$ 60 por mês, um valor acessível para muitos trabalhadores pobres. As três principais empresas de telefonia fixa do país --a Telefônica da Espanha, a Tele Norte Leste Participações, ou Telemar, e a Brasil Telecom-- concordaram em fornecer conexão discada de Internet aos participantes por R$ 7,50 por mês, permitindo 15 horas de navegação na Internet.

O programa visa lares e donos de pequenas empresas que ganham de três a sete vezes o salário mínimo mensal. O governo disse que 7 milhões se qualificariam e espera atingir um milhão deles até o final do ano.

Isto pode parecer ambicioso em um país em desenvolvimento com 183 milhões de habitantes, onde apenas 10% de todos os lares têm acesso à Internet e apenas 900 mil computadores são vendidos legalmente a cada ano. (Incluindo as vendas do mercado negro, o número se aproxima de 4 milhões, ainda assim uma pequena fração do número de computadores vendidos anualmente nos Estados Unidos, segundo a International Data Corp., uma firma de pesquisa de tecnologia.)

"Nós estamos cientes de que estamos falando sobre dobrar o mercado doméstico para computadores pessoais", disse Cézar Alvarez, o assessor presidencial encarregado do programa PC Conectado. "Mas é absolutamente viável."

Alguns analistas questionam a eficácia de tais programas, notando que projetos semelhantes na Ásia acabaram atolando em burocracia e, em alguns casos, favorecendo a elite.

Na Malásia, por exemplo, o governo está lançando um segundo programa de computadores de baixo custo após o fracasso de sua primeira tentativa, por causa de mau planejamento e fraude --algo que as autoridades brasileiras disseram que estão trabalhando arduamente para impedir.

Outros disseram que o governo deveria concentrar suas iniciativas de tecnologia em outros lugares, especialmente nas escolas. Apenas 19% das escolas públicas do Brasil têm computadores.

O governo diz que planeja complementar o PC Conectado com maiores esforços para colocar mais computadores nas escolas. Ele também está investindo US$ 74 milhões para abrir 1.000 centros comunitários em bairros pobres neste ano, com computadores rodando programas de software livre e oferecendo acesso gratuito à Internet --complementando programas semelhantes dos governos municipais e organizações não-governamentais.

O esforço para superar a exclusão digital tem provocado elogios por toda a indústria de tecnologia. Mas a preferência por software open source é controversa, com críticos dentro e fora do governo dizendo que o governo Lula está deixando a ideologia esquerdista passar por cima das leis de oferta e demanda.

"Não cabe ao governo decidir que hardware e software farão parte destes computadores", disse Julio Semeghini, deputado federal do PSDB, de oposição. "Isto não é democrático."

Mas o caminho do open source conta com apoio fora do governo Lula.

Walter Bender, o diretor executivo do Media Lab do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, cujo parecer foi solicitado pelo governo brasileiro, respondeu em uma recente carta que "software livre de alta qualidade" tem se mostrado mais eficaz em estimular o uso de computadores entre os pobres do que versões simplificadas de software pago.

Seja lá o que o governo decidir, a maioria dos analistas da indústria concorda que o programa provavelmente ajudará a combater a pirataria de software, que é grande no Brasil.

E ao atrair novos consumidores, "mesmo se o programa não atingir suas metas, ele acabará estimulando os mercados de computadores e software", disse Jorge Sukarie, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Software. "Não é perfeito, mas é certamente melhor do que nada."

domingo, março 27, 2005

Fundador da web ataca obsessão com direitos autorais

Tim Berners-Lee, um dos fundadores da Internet como é conhecida hoje, fez um alerta contra a voracidade das desenvolvedoras de software que fecham o código de produtos importantes por exigir pagamento de royalties.

A declaração foi feita durante a Emerging Technologies Conference (Conferência de Tecnologias Emergentes) do Massachussets Institute of Technology (MIT). Berners-Lee, diretor do World Wide Web Consortium, disse que as barreiras para o desenvolvimento da Web são sociais tanto quanto tecnológicas.

Segundo ele o próximo stágio da web será melhorar os métodos que os computadores usam, o que será impossível enquanto as epresas segurarem as patentes de programana esperança de ficarem milionárias com os direitos autorais. O palestrante colocou ainda que é de suma importância um acordo para adoção de padrões de comunicação entre computadores e armazenamento de conteúdo online.

original: http://www.magnet.com.br/bits/mercado/2004/09/0057

sábado, março 26, 2005

Nova teoria propõe como tornar objetos invisíveis

Os fãs da série Jornada nas Estrelas estão acostumados a ver as naves Klingon se camuflarem, ficando totalmente invisíveis, reaparecendo apenas para disparar suas armas. Ainda estamos muito longe de ver algo parecido acontecer na prática.


Mas agora dois cientistas da Universidade da Pensilvânia, Nader Engheta e Andrea Alu, demonstraram que é possível fazer com que um objeto fique totalmente invisível. Por enquanto, eles conseguem tornar invisível qualquer objeto desde que ele seja uma esfera microscópica feita de ouro ou prata.

Para fazer o objeto ficar invisível, os cientistas alteraram a forma como ele reflete a luz, utilizando plasmons - vibrações dos elétrons que acontecem na superfície de alguns metais. Os plasmons foram descobertos quando a equipe do Dr. Thomas Ebbesen incidiu luz sobre uma placa de ouro contendo furos menores do que o comprimento de onda dessa luz. Eles não esperavam ver nada do outro lado mas, para sua surpresa, saía mais luz do outro lado do que entrava.

"Um design adequado pode induzir uma queda dramática na superfície de reflexão, tornando o objeto praticamente invisível a um observador," escrevem os cientistas em seu artigo, disponível no site da Universidade (veja quadro Para Navegar).

Os objetos são visíveis aos nossos olhos porque eles refletem a luz. As cores dos objetos variam conforme o comprimento de onda da luz que eles refletem. A parcela da luz não refletida é absorvida. O que os cientistas fizeram foi alterar essa capacidade de reflexão, fazendo com que praticamente toda a luz fosse absorvida. Fazendo a energia dos plasmons coincidir com a energia da luz incidente, eles conseguiram que toda a luz incidente fosse absorvida de um lado e emitida do outro lado do objeto.

Mas a descoberta poderá ter aplicações em outros comprimentos de onda, que não a luz visível. Por exemplo, provavelmente nunca será possível fazer com que um homem se torne invisível aos olhos de outros humanos, mas ele poderá se tornar invisível às microondas, por exemplo, que têm um comprimento de onda maior.

A descoberta tem grande interesse científico e poderá mesmo, um dia, permitir aplicações práticas. Mas os cientistas avisam que ainda não se pode pensar em nenhum objeto do dia-a-dia tornando-se invisível. Objetos grandes têm geometria complexa e necessitariam ser revestidos com camadas de materiais adequados, com características detalhadas em nível nanométrico. Além disso, eles precisariam ser construídos de modo a refletir todos os comprimentos de onda da luz visível, o que ainda não foi conseguido.

A revista Nature também publicou uma reportagem baseada no artigo divulgado pelos cientistas.

Cientistas da Universidade de Ohio (Estados Unidos) descobriram uma forma de ampliar a absorção de luz por uma rede metálica em até 1.000 vezes, o que poderá abrir caminho para a fabricação de sensores químicos e instrumentos de laboratórios muito mais eficientes. A descoberta consiste em uma nova técnica de revestimento que permite que a tela capture e transmita mais luz através de seus poros microscópicos do que seria possivel normalmente.

James V. Coe e seus colegas também descobriram que, se a malha metálica for recoberta com moléculas de gordura, pode-se utilizar o calor para controlar a quantidade de luz que passa pela malha. Os resultados foram apresentados por Coe e seu aluno Kenneth R. Rodriguez na reunião anual da American Chemical.

"Com o revestimento correto, nós descobrimos que podemos controlar precisamente o diâmetro dos buracos e a quantidade de luz transmitida. De fato, a malha age como uma chave ótica," explica Coe, referindo-se a dispositivos que controlam sinais de luz em optoeletrônica. "Com a adição de controles de calor, você pode chamá-la de chave termo-ótica."

A Universidade registrou dois pedidos de patente para a nova tecnologia e está procurando parceiros comerciais para seu aprimoramento. Uma das possibilidades de utilização é o estudo da interação entre colesterol e outras células, ou ainda o efeito do calor sobre o DNA.

O fenômeno de ampliação da luz foi descoberto em 1.998 nos laboratórios da empresa NEC. Os pesquisadores perceberam que fileiras nanométricas de átomos de prata podem transmitir uma quantidade enorme de luz na forma de pacotes de energia chamados plasmons de superfície. A palavra plasmon é uma junção e plasma e fóton. A luz é excitada e reaparece do outro lado da placa, em quantidade superior à prevista.

Os pesquisadores da Universidade de Ohio queriam saber se poderiam criar plasmons em outros metais, utilizando luz infravermelha ao invés de ultravioleta, como feito nos laboratórios da NEC. Para suas experiências, eles utilizaram uma malha metálica de níquel, disponível comercialmente. A olho nu, a malha metálica parece-se com uma fita metálica flexível. Suas perfurações têm menos do que 13 micrômetros de diâmetro.

Os pesquisadores tiveram que criar um método de cobrir a malha de níquel com uma camada de átomos de cobre. Como resultado dessa pesquisa, eles descobriram que poderiam afinar o processo para preencher as bordas das perfurações e estreitar os buracos para qualquer tamanho que eles desejassem. Quando o tamanho dos buracos atingiu uma dimensão comparável àquele do comprimento de onda da luz que atingia a malha metálica, apareceram os plasmons.

Como os buracos normalmente cobrem 25 por cento da superfície, a malha deveria deixar passar apenas 25 por cento da luz que a atingia. Mas, nos testes, a placa transmitiu 75 por cento da luz, o que sugeria que a luz incidente sobre a malha estava sendo transmitida para o outro lado. É como se a placa perfurada sumisse com a luz de um lado e a fizesse reaparecer do outro lado, uma vez que não há área suficiente para que tanta luz atinja o outro lado.

Quando os pesquisadores adicionaram uma camada de gordura, mais especificamente moléculas obtidas da soja, a superfície absorveu ainda mais luz, atingindo até 1.000 vezes mais do que em qualquer outra experiência com plasmons.

As moléculas de gordura vegetal podem ser utilizadas para controlar a quantidade de luz passante devido ao seu formato. Em temperatura ambiente elas formam longas cadeias que permanecem retas sobre a superfície. Mas, à medida em que a temperatura sobe, as cadeias se quebram, alterando a polarização da luz. Em um processo ainda não totalmente entendido pelos pesquisadores, o processo funciona seguidamente desde que se mantenha as moléculas hidratadas, ou seja, desde que a temperatura não ultrapasse os 100º C.

original: http://www.mpsnet.net/virtualshop/Noticias_arquivos/not02032005.htm

sexta-feira, março 18, 2005

MIT recomenda software livre ao governo brasileiro

O Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o prestigiado MIT, recomendou ao governo brasileiro a adoção do software livre - em vez de sistema proprietário oferecido pela Microsoft - no programa PC Conectado, que tem como objetivo vender milhares de computadores à população de baixa renda com preços reduzidos. A recomendação consta em uma carta obtida hoje pela Reuters.

"Nós defendemos o uso de software livre de alta qualidade como oposição ao uso de versões reduzidas de programas proprietários de custo maior", afirmou o diretor do laboratório do MIT, Walter Bender, em carta enviada ao governo brasileiro. "Software livre é melhor em termos de custos, poder e qualidade."

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros podem decidir em breve se software livre ou uma versão simplificada do Windows será instalada nos computadores do programa. O projeto tem meta de vender até 1 milhão de computadores em um ano, com custos parcialmente subsidiados pelo governo.

A decisão final sobre qual software será instalado já foi adiada algumas vezes. Alguns membros do governo acreditam que os consumidores deveriam poder escolher entre comprar um computador com código livre e pagar um pouco mais por uma máquina com software da Microsoft. A preocupação é que esta alternativa faria mais sentido para consumidores que já estão familiarizados com a plataforma da Microsoft.

Entretanto, defensores do software livre na administração federal acreditam que a Microsoft deveria ficar fora do programa. Muitas instâncias do governo estão migrando para o Linux, para reduzir milhões de dólares em custos com licenciamento de software. "Uma vez que o crescimento econômico sustentado baseia-se em contribuições a uma economia criativa e baseada em conhecimento, é óbvio para nós que o melhor caminho é fornecer a maior penetração de mercado possível", afirmaram Bender e o co-autor da carta, o cientista David Cavallo. "É também óbvio que a tecnologia mais poderosa e a custo mais baixo fornece a maior penetração."

A Microsoft não comentou o assunto.

quinta-feira, março 17, 2005

A la carte

Desprezando as pressões para democratizar o uso e desenvolvimento de software, Conselho da União Europeia remete ao Parlamento um projeto que consagra as patentes em todo o continente e beneficia monopólio

Na última quinta, ele apareceu pelo décimo primeiro ano
consecutivo no topo da lista dos homens mais ricos do
mundo, publicada pela revista Forbes. Sua fortuna pessoal,
avaliada em US$ 46,5 bilhões, corresponde a quase o dobro da
do terceiro colocado (o indiano Lakshmi Mittal, dono de US$
25 bilhões). Mesmo assim a União Européia resolveu dar uma
ajudinha para William Gates III se tornar ainda mais rico,
dificultando a vida das pequenas e médias empresas que disputam
mercado com a Microsoft.

No último dia 7, o Conselho da União Européia (UE) enviou ao
Parlamento a diretiva de patentes conhecida como a "versão de 18
de maio de 2004", que harmoniza e amplia o uso de patentes de
software na Europa. Desde 2002, o Conselho da UE vem gestando
uma harmonização das leis para os diversos países da União
Européia - atualmente, tribunais de diferentes países têm regras
distintas e o texto de 18 de maio é a versão mais dura e mais
favorável às grandes empresas. A diretiva deve ser votada pelo
Parlamento Europeu num prazo de três meses e, para ser rejeitada
ou sofrer emendas, precisa do voto de 367 parlamentares (a
metade mais um do número total de deputados: 732).

A reunião do Conselho da UE que aprovou o texto foi
bastante conturbada. O próprio presidente do Conselho, Jean
Asselborn, ministro de relações exteriores de Luxemburgo,
admitiu que vários países eram contra a proposta mas que
ela só foi adotada "por razões institucionais, para que não
fosse criado um precedente para outros processos". Portugal,
Polônia e Dinamarca estão entre os países (outros não foram
revelados) que foram contra a aprovação, pedindo que o texto
fosse discutido com mais profundidade.

O Conselho da UE é formado por comissários representantes dos
países membros. Em cada reunião, temática, estão presentes
apenas um representante para cada país. Cabe ao Conselho da
UE propor as leis que serão aprovadas pelo Parlamento.

O modo como a reunião foi conduzida e a insistência da
presidencia do Conselho em aprovar a diretiva de patentes está
sendo interpretada por ativistas de todo mundo como um episódio
que compromete a legitimidade da União Européia. O Parlamento
Europeu pediu, no último mês, a reabertura da discussão sobre
patentes de software. O Conselho da UE negou o pedido e fez
justamente o contrário, aprovou o texto antigo.

"Não consigo ver como é que os proponentes da Constituição
Européia ainda a podem apoiá-la com honestidade. Este evento
demonstra que algo está claramente podre na cidade de Bruxelas
no edifício do Conselho. Teria sido muito mais fácil se
essas regras simplesmente fossem descartadas e substituídas
por 'A Presidência do Conselho e a Comissão podem fazer o
que quer que desejem'", declarou o diretor da Fundação por
uma Infra-estrutura de Informação Livre (FFII, pela sigla
em inglês), Jonas Maebe. Entidades de todo o mundo, muitas
delas ligadas ao software livre, iniciaram uma campanha em
que comparam a União Européia a uma "república das bananas".

Os marionetes da Microsoft

O polêmico texto de 18 de maio de 2004 foi redigido quando
a Irlanda, país visto como tendo conexões muito próximas
com a Microsoft, ocupava a presidência do Conselho da União
Européia. O cargo era ocupado pelo atual ministro das Finanças,
Brian Cowen. Charlie McCreevy, que atualmente preside a
Comissão do Conselho da União Européia para o Mercado Interno,
foi ministro das Finanças do país até 2004 e é acusado de
ser um "vassalo de Bill Gates". "O poder do presidente de uma
Comissão do Conselho sobre o processo legislativo é imenso",
afirma Florian Mueller, membro da campanha pan-européia contra
as patentes de software.

A Irlanda, que há vinte anos atrás era um dos países mais pobres
da Europa, tem sido usada como uma espécie de paraíso fiscal da
Microsoft, porta de entrada para o mercado europeu. O país cobra
apenas 10% de imposto sobre os produtos da empresa, que podem
ser vendidos em todo o continente sem nenhuma taxa adicional
graças ao acordo comercial europeu. Ganham a Microsoft e a
Irlanda (que hoje tem a maior renda per capita do continente)
mas perdem todos os outros Estados europeus. Os Estados Unidos,
por sua vez, subsidiam a Microsoft e ajudam a Irlanda, país
com quem tem laços históricos, ao cobrar impostos muito baixos.

Ameaça aos pequenos

Atualmente, as patentes de software já estão em vigor nos
Estados Unidos mas, se forem adotadas também pela Europa,
deverão ser empurradas ao resto do mundo por meio de acordos
comerciais como os da Organização Mundial de Comércio (OMC). O
sistema estadunidense, similar ao que está sendo cogitado para
a União Européia, permite o patenteamento de idéias óbvias
e, às vezes, risíveis. "Vender coisas fazendo uso de rede
por meio de um processador de pagamentos ou usando um micro
servidor e um cliente"; "vender coisas por meio de redes de
telefones celulares"; "distribuir vídeo pela internet"; "o
formato de arquivo '.jpg'"; "distribuir filmes pela internet",
são exemplos de patentes já concedidas pelo Escritório da
Patentes Europeu e que poderão agora ser aplicadas.

Com elas, ficam ameaçadas as pequenas e médias empresas e
comprometida a competitividade do mercado de software. Pequenas
e médias empresas não têm condições de enfrentar as custas
judiciais de uma acusação de violação de patente que, em
geral, supera os US$ 2 milhões. As grandes corporações, para
se protegerem de processos movidos por suas rivais, têm obtido
patentes indiscriminadamente - o que custa caro - nem que seja
somente para obterem poder de barganha em uma disputa legal.


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quarta-feira, março 02, 2005

Poderes ocultos por toda parte

Teorias conspiratórias oferecem explicações sedutoramente simples para um mundo caótico. Mas cuidado! Não acredite facilmente.


O presidente John F. Kennedy não foi assassinado por Lee Harvey Oswald; na verdade, ele foi morto pela CIA por se opor às operações clandestinas da agência de inteligência. A princesa Diana não morreu num acidente de carro enquanto o motorista fugia de paparazzi; a família real teve participação na morte porque não queria que Diana herdasse poder ou riqueza. E quando você vê aviões de caça a grandes altitudes deixando trilhas de condensação por onde passam, não é apenas o efeito físico da emissão de calor no ar frio e úmido; os aviões estão pulverizando gotículas - trilhas químicas, ou chemtrails - sobre as pessoas, às vezes testando agentes infecciosos ou venenos, ou, quem sabe, vacinas.

Teorias conspiratórias têm florescido por séculos, e a internet acelerou a sua disseminação. Pessoas que acreditam em rastros químicos criaram diversos sites na web para alertar as outras sobre esse perigo. A BBC (British Broadcasting Corporation) localizou mais de 36 mil sites apresentando mitos e lendas sobre o acidente fatal de Lady Di em 1997.

Por que as pessoas vão tão longe para tentar provar que poderes ocultos estão por trás de tudo, desde a disseminação de doenças até a morte de celebridades? E aqueles que acreditam nessas teorias apenas têm imaginação fértil, ou há algo mais se passando em suas cabeças? A maioria dos indivíduos que se deleitam com histórias de conspiração é saudável, mesmo quando se aproxima dos limites do delírio.

Psiquiatras definem como delirante alguém que tenha uma falsa visão da realidade e se aferre a ela com convicção, a despeito de argumentos e indícios claros contra essa percepção. Sua certeza resoluta pode assumir diversas formas. Nos delírios relacionais, um indivíduo vê todas as pessoas, os acontecimentos e objetos à sua volta como ligados a ele.

Acredita que a vitrine da loja da esquina está lhe enviando mensagens, ou que determinado artigo de jornal dirige-se exclusivamente a ele. Já nos casos de delírios persecutórios, o indivíduo pensa que os outros o estão observando, ouvindo suas conversas ou seguindo seus passos.

LIMITES DA SANIDADE

Seja qual for o delírio, o terapeuta em geral não consegue dizer se uma idéia aparentemente maluca tem ou não base na realidade - e, em certo sentido, não é isso o que importa. O diagnóstico de delírio é baseado, sobretudo, no modo como o paciente apresenta a idéia e sua certeza absoluta sobre os fatos que dela decorrerão. Mesmo assim, os terapeutas devem ser cautelosos. Afinal, é possível que uma paciente esteja realmente sendo assediada no trabalho, traída pelo marido ou enganada por seu sócio.

Os terapeutas também devem tomar cuidado para não confundir fatos com delírios, uma armadilha conhecida como o efeito Martha Mitchell. Martha era esposa de John Mitchell, ex-procurador-geral dos Estados Unidos. Em outubro de 1972 ele foi acusado de ter dado a ordem para invadir o comitê central da campanha dos democratas, no Watergate Hotel, em Washington. Martha diversas vezes afirmou à imprensa que seu marido estava sendo usado como bode expiatório para proteger o verdadeiro culpado - o presidente Richard M. Nixon. A Casa Branca espalhou boatos sobre Martha, dizendo que ela sofria de alcoolismo e insinuando que suas declarações não passavam de delírios. Quando o escândalo finalmente foi esclarecido, as afirmações de Martha foram comprovadas e ficou demonstrado que ela era completamente sã.

O enorme número e o sucesso de livros e programas de televisão sobre "o que de fato aconteceu" em Watergate ou "quem realmente matou" o presidente JFK atestam que as pessoas são facilmente seduzidas por teorias conspiratórias. Mas, por quê? Uma resposta inicial é que essas teorias oferecem uma mensagem simples. Não importa o acontecimento, há uma única força - em geral malévola - por trás dele. Muitos de nós tendem a simplificar exageradamente questões complicadas, reduzindo-as a uma causa única sempre que possível. Tal procedimento organiza o caos, torna inteligível um mundo complexo. E, uma vez que tenham acreditado entender como algo funciona, se aferram a essa crença.

Crer em um plano secreto supremo elaborado por uma poderosa organização estabelece relações de causa e efeito simples que se desenrolam numa cadeia linear de acontecimentos. O acaso e a ambigüidade não desempenham nenhum papel, algo reconfortante até mesmo diante de forças sinistras.

Conspirações têm grande chance de se tornar populares quando alimentam preconceitos ou superstições já existentes, e a crença na conspiração reforça essas posições. Nesse círculo vicioso, toda e qualquer conexão com a realidade é rapidamente perdida. E, se a teoria confirma velhas suspeitas aceitas por muitos, o número de adeptos aumentará.

RAÍZES DA DESCONFIANÇA

Um bom exemplo, apesar de hediondo, é a acusação, feita em diversos momentos desde a Idade Média, de que judeus sacrificariam crianças cristãs em rituais secretos. Esse mito foi reforçado pelo monge beneditino britânico Thomas de Monmouth. Em seu livro Vida e milagres de São Guilherme de Norwich, publicado em 1713, Thomas contava a morte de um menino de 12 anos. Valendo-se de indícios inconsistentes, ele afirmava que o garoto fora vítima de um assassinato ritual praticado por judeus.

Esse libelo infamante foi reiteradamente martelado até o século XIX.

Escritos anti-semitas e documentos falsificados, tais como O judeu do Talmude, publicado pelo teólogo August Rohling em 1871, conferiram um ar pseudocientífico às lendas. Essas e outras falsas acusações do mesmo tipo ajudaram a alimentar o anti-semitismo do século XX e até os dias atuais.

As pessoas parecem particularmente dispostas a aceitar histórias extravagantes como essas se elas brotam de uma desconfiança generalizada no outro. Em 1994, Ted Goertzel, da Universidade Rutgers, EUA, realizou um estudo em que os entrevistados liam dez histórias conspiratórias e depois eram questionados sobre quais eles julgavam verdadeiras. A maioria respondeu que pelo menos uma delas estava correta, e muitos aceitaram várias como sendo verídicas. Por exemplo, metade dos participantes acreditava que os japoneses conspiravam para destruir a economia americana. No entanto, ainda mais interessante foi a descoberta de Goertzel de que pessoas descontentes com a vida tinham maior propensão a acreditar em teorias conspiratórias. Os entrevistados mais crédulos também tendiam a demonstrar maior desconfiança em relação a políticos e servidores públicos.

Auto-identificação racial também pode influir. Grande parte dos afro-americanos participantes do estudo acreditava que o governo americano havia criado o vírus da Aids em laboratórios secretos e infectado propositadamente pessoas negras. Talvez essa crença tenha origem em algo desconhecido conscientemente. Em 1932, na cidade de Tuskegee, no Alabama, pesquisadores do precursor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças deram início a um tristemente célebre estudo envolvendo quase 400 homens afro-americanos infectados com sífilis.

Em vez de dar o diagnóstico correto, os pesquisadores simplesmente informaram aos homens que exames médicos indicavam que eles tinham "sangue ruim" - um termo usado naquela época para uma série de problemas, da anemia à síndrome da fadiga crônica. Os pesquisadores ofereceram a esses homens pobres e desesperados tratamento gratuito e até mesmo se ofereceram para arcar com os custos de seus funerais, caso necessário. Na verdade, os médicos queriam estudar o progresso da sífilis quando não tratada - até seu ponto final, a morte. Mesmo após a penicilina se tornar largamente difundida, em 1947 - medicamento que poderia ter curado esses pacientes -, o estudo continuou. Muitos participantes morreram, mas não sem antes contaminar outras pessoas.
Esses homens foram tratados como ratos de laboratório.
Surpreendentemente, o projeto continuou até 1972, quando a jornalista Jean Heller descobriu o plano secreto. Três meses depois o governo federal declarou que o estudo era antiético e o interrompeu. Um tribunal concedeu indenização de US$ 9 milhões aos participantes e suas famílias, além de tratamento médico gratuito. No entanto, nenhum dos pesquisadores ou administradores envolvidos foi responsabilizado criminalmente. Somente em maio de 1997 o presidente Bill Clinton pediu desculpas oficialmente aos oito sobreviventes.

Essa história, e outras semelhantes, pode muito bem ter alimentado a idéia, largamente aceita entre os afro-americanos entrevistados por Goertzel, de que o governo americano conspirou para disseminar a Aids entre membros de sua raça. A ocultação de fatos reais também pode ser o motivo pelo qual muitos negros ainda desconfiam dos atuais esforços do Centro de Controle e Prevenção de Doenças para prevenir e tratar a síndrome nacionalmente.

Uma teoria conspiratória não precisa, no entanto, ter suas raízes em um fato real. Incidentes completamente inventados bastam, desde que sejam verossímeis. Na política, teorias conspiratórias falsas são freqüentemente usadas para difamar um adversário. Ao longo da história, governantes têm apresentado seus oponentes como conspiradores responsáveis por toda sorte de revés. No século I d.C., o imperador romano Nero espalhou o boato de que os cristãos atea-ram fogo em Roma. Na Idade Média, massacres organizados de judeus foram desencadeados quando líderes russos fizeram acusações bizarras, e extremamente imaginosas, contra eles.

Um dos exemplos mais bem-sucedidos, e também dos mais perversos, são os Protocolos dos sábios de Sião. Esse livro, aparentemente publicado pela polícia secreta do czar russo Nicolau II, em 1897, insinuava uma conspiração de judeus e maçons para conquistar o mundo. O documento forjado acusava ambos os grupos de serem responsáveis pela Revolução Francesa, bem como pela ascensão do socialismo e do anarquismo - em suma, por tudo aquilo que os monarquistas e nacionalistas de fins do século XIX e começo do século XX temiam. Os Protocolos exerceram enorme influência sobre a opinião pública de diversos países.

Desde o início questionou-se a autenticidade dos Protocolos, mas isso em nada afetou sua disseminação. Paradoxalmente, os argumentos contra a veracidade do livro apenas reforçaram a crença na existência de uma conspiração judaica internacional dedicada a desacreditá-lo. O texto apareceu e reapareceu seguidamente sob novos disfarces, na maioria das vezes acompanhado por outros tratados anti-semitas. Entre outras coisas, o texto serviu como importante fonte da ideologia nazista, tendo sido adotado por Adolf Hitler. Chegou a ser incluído na lista de leituras obrigatórias das escolas alemãs, a partir de 1935. Atualmente, os Protocolos são largamente difundidos em países árabes, envenenando a mente de seus leitores.

MACARTHISMO

Teorias conspiratórias oferecem a manipuladores políticos justificativas para usar todo e qualquer meio possível para destruir seus rivais. O famigerado Sub-comitê Permanente de Investigações do Senado dos Estados Unidos, presidido pelo senador Joseph McCarthy no início dos anos 50, procurava comunistas escondidos por todo o país - e, claro, os encontrou. Uma denúncia, assim como a recusa de alguém em apontar outros supostos comunistas, era suficiente para "provar" que a pessoa era comunista. Quase 10 mil pessoas perderam seus empregos em razão de acusações falsas ou obtidas mediante coação. Assim, os partidários de uma grande conspiração comunista viram suas idéias confirmadas por esses resultados.

Ditadores e tiranos, para se rodearem de um exército de seguidores que os sirva cegamente, inventam constantemente novos complôs contra seus regimes. E pelo fato de seus supostos oponentes agirem às escondidas, eles podem ser qualquer um ou estar em qualquer lugar - o que torna necessário estar sempre alerta. É desse modo que autocratas justificam órgãos de repressão. Além disso, como os regimes ditatoriais, aos olhos de seus simpatizantes, estão sempre certos, qualquer problema que surja é sempre atribuído a conspiradores e não a erros próprios.

Até mesmo sociedades democráticas inventam ou são seduzidas por histórias fantasiosas. Muitos escritores e editores publicaram, depois dos ataques de 11 de setembro, "dossiês" culpando os mais diversos grupos.

Alguns até afirmaram que os ataques foram realizados pela CIA. Os defensores dessas teorias colocavam em dúvida a versão oficial dos fatos, propondo explicações apoiadas em "especialistas" anônimos da internet como suas fontes. Outros chegaram a afirmar que agentes secretos americanos fizeram colidir, por meio de controle remoto, os dois aviões contra o World Trade Center. E, uma vez que agentes sabiam que o impacto talvez não fosse suficiente para os prédios desabarem, eles também teriam explodido suas estruturas no momento do choque. Por quê? Para que a superpotência pudesse usar a tragédia para justificar suas operações militares no Oriente Médio. As operações seriam, por si só, provas mais do que suficientes da armação.

Essa lógica - uma inversão da causa e efeito - é típica das teorias conspiratórias. Fatos atuais - como a "guerra ao terrorismo", em grande parte uma reação ao ataque ao World Trade Center - são usados como indícios para provar que tais acontecimentos foram planejados muito antes. Teóricos da conspiração nem imaginam que a história pudesse ter se desenrolado de outro modo.

De dentro de seus casulos de motivos pressupostos e maquinações, os autores de teorias da conspiração também criam suas próprias defesas.

Suas reputações dependem da habilidade para defender suas idéias contra todos que as contestam. Uma tática clássica é alegar compreensão absoluta das coisas. Em sociedades antigas, compreensão absoluta advinha de oráculos e presságios. O poder dos sacerdotes também se fundava na capacidade de entender sinais. Apenas uns poucos estavam aptos a ler sinais mágicos ou interpretar as entranhas de animais sacrificados e, deste modo, explicar a vontade dos deuses.

A predisposição da sociedade para colocar em pedestais aqueles que são capazes de interpretar esse conhecimento oculto persiste ainda hoje.
Sherlock Holmes, avô dos modernos detetives, solucionava crimes com base em um punhado de pistas. Médicos diagnosticam enfermidades internas baseados em sinais exteriores da doença. Astrônomos podem explicar tanto o começo como o fim do Universo pela simples observação do céu à noite.

Pelo fato de que conspirações, por definição, acontecem às sombras, apenas os iniciados podem compreendê-las. Isso eleva os teóricos da conspiração à condição de profetas e satisfaz seus egos. E eles podem sempre contar com apoio, pois suas interpretações alimentam as necessidades ou preconceitos de muita gente.

Teorias da conspiração dizem muito a respeito dos inimigos imaginários, medos e preconceitos daqueles que as criam, e por isso podem ser úteis como documentos da história contemporânea. No mundo atual, que tantos consideram demasiado complexo, explicações simples são atraentes. Por isso, é muito provável que os primeiros anos do século XXI experimentem um aumento vertiginoso da crença em conspirações.

original: http://www2.uol.com.br/vivermente/conteudo/materia/materia_19.html

Bill Gates cavaleiro na Inglaterra?

O fundador e presidente da Microsoft, Bill Gates, será nomeado cavaleiro honorário pela rainha Elizabeth na quarta-feira. O título britânico será concedido por sua contribuição às atividades das empresas de informática.

Gates, o homem mais rico do mundo, receberá o reconhecimento da rainha no Palácio de Buckingham. Em meio ao luxo e pompa do palácio, Gates se curvará perante a rainha, que vai tocar seu ombro com uma espada.

Somente cidadãos britânicos podem ter o direito de colocar diante de seus nomes o título "Sir". A honra não se estende a outras nacionalidades. No ano passado, rumores indicaram que Gates seria nomeado cavaleiro. O secretário britânico de Relações Exteriores, Jack Straw, chegou a afirmar que Gates era "um dos líderes empresariais mais importantes de sua era".

"A tecnologia da Microsoft transformou as práticas empresariais e sua companhia vem tendo um impacto profundo na economia britânica", salientou Straw.

original: http://informatica.terra.com.br/interna/0,,OI480400-EI553,00.html

Você é comunista?

"Bill Gates e outros comunistas
por Richard Stallman

Quando o site CNET News.com perguntou à Bill Gates sobre patentes de software, ele mudou de assunto e falou sobre "propriedade intelectual" misturando tudo com várias outras prerrogativas legais.

Então ele disse que todos que não derem suporte para a legislação sobre patentes é um comunista. Já que não sou comunista mas tenho criticado as patentes de software, fiquei pensando que esse tipo de comentário deve referir-se à mim.

Quando alguém usa o termo "propriedade intelectual" normalmente ou está confuso sobre o assunto ou está tentando confundir você. Esse termo é usado para colocar no mesmo pacote as leis de copyright (direitos autorais), leis de patentes e várias outras legislações, cujos dispositivos e efeitos são totalmente diferentes uns dos outros. Por que o Sr. Gates faz isso, misturando todos esses conceitos? Vamos analisar as diferenças que ele escolheu esconder.

Desenvolvedores de software não estão lutando contra as leis de copyright (direitos autorais e direitos de cópia), porque o desenvolvedor de um programa mantém o copyright do programa; desde que os programadores tenham escrito o código, ninguém mais possuirá o copyright para esse código. Não há perigo de que terceiros tenham um caso legal válido de quebra de direitos de copyright contra os programadores de um código.

Patentes são uma história diferente. Patentes de Software não cobrem o código do programa ou o programa pronto; cobrem idéias (métodos, técnicas, caracteristicas, algoritmos, etc.). Desenvolver um grande programa envolve combinar milhares de idéias, e mesmo que algumas delas sejam completamente novas, o resto precisa vir de outros softwares que o desenvolvedor já tenha visto. Se cada uma dessas idéias pudesse ser patenteada por alguém, cada grande programa iria infringir centenas de patentes. Desenvolver um grande programa significaria estar vulnerável à centenas de potenciais processos judiciais. Patentes de software são ameaças aos desenvolvedores de software, e aos usuários, que também podem ser processados.

Alguns poucos afortunados desenvolvedores de software estariam livres de todo o perigo. Seriam as megacorporações que, normalmente, possuem milhares de patentes cada e licenciamento cruzado uma com a outra. Isto dá à elas uma vantagem sobre rivais menores que é irreversível. Esta é a razão pela qual geralmente são as megacorporações que fazem lobby por patentes de software.

A Microsoft de hoje é uma megacorporação com milhares de patentes. Microsoft disse em juízo que o maior competidor do Windows é "Linux", referindo-se ao sistema operacional e software livre chamado GNU/Linux. Documentos internos da Microsoft que vazaram para o público dizem que a Microsoft visa usar as patentes de software para anular o desenvolvimento do GNU/Linux.

Quando o Sr. Gates começou a criar sua solução para o problema do spam, eu suspeitei que tratava-se de um plano de usar as patentes de software para assumir o controle da Internet. De fato, em 2004, a Microsoft pediu à IETF (Internet Engineering Task Force ou Força Tarefa de Engenharia da Internet) para aprovar um protocolo de e-mail que a Microsoft tentava patentear. A política de licenciamento para o protocolo foi criada para proibir inteiramente o software livre. Nenhum programa que suportasse esse protocolo de e-mail poderia ser lançado como software livre, sob a GNU GPL (Licença Geral Pública do GNU), a MPL (Licença pública Mozilla), a licença Apache, quaisquer licenças BSD, ou qualquer outra licença livre.

A IETF rejeitou o protocolo da Microsoft, mas a Microsoft afirmou que tentaria convencer grandes provedores de internet a usar o protocolo de qualquer modo. Graças ao Sr. Gates agora sabemos que uma internet aberta com protocolos que qualquer um possa implementar é comunismo; e que esta foi desenvolvida pelo mais famoso agente comunista que há, o departamento de defesa dos Estados Unidos da América.

Com a participação de mercado que a Microsoft tem, ela pode impor sua escolha de sistema de programação ao mercado como um padrão de-facto. A Microsoft já patenteou alguns métodos de implementação usados em .Net, aumentando a preocupação de que milhões de usuários foram inseridos em um monopólio que o próprio governo dos Estados Unidos a América já tentou combater.

Mas capitalismo significa monopólio; ao menos a visão de capitalismo de Gates significa. Pessoas que acham que qualquer um deve estar livre para programar, livre para escrever softwares complexos, são comunistas como o Sr. Gates já colocou. Mas estes comunistas já infiltrama-se até mesmo na Microsoft. Aqui está o que Bill Gates disse à seus empregados na Microsoft em 1991:

'Se as pessoas tivessem entendimento sobre como patentes seriam concedidas quando a maioria das idéias de hoje foram inventadas e tivessem registrado-as, a industria de hoje estaria completamente paralisada...No futuro uma pequena empresa de informática que não possua patentes próprias será forçada a pagar qualquer preço que as gigantes escolham impor.'

O segredo do Sr. Gates foi agora revelado; ele também era um "comunista"; ele também reconheceu que patentes de software eram danosas, até que a Microsoft tornou-se uma das gigantes. Agora a Microsoft pretende usar as patentes de software para impor qualquer preço que escolha à você e à mim. E se objetarmos contra isso o Sr. Gates irá nos chamar de "comunistas"

Se você não tiver medo de ser assim rotulado, visite ffii.org (Foundation for a Free Information Infratructure ou Fundação para uma Estrutura de Informação Livre), e junte-se à luta contra as patentes de software na Europa. Nós já persuadimos o Parlamento Europeu uma vez - até mesmo alguns Primeiros Ministros de direita são "comunistas" ao que parece - e com sua ajuda vamos fazê-lo novamente.

Richar Stallman é presidente da Free Software Foundation e chefe do projeto GNU."