sexta-feira, setembro 30, 2005

"Pessoa Errada"

Pensando bem
Em tudo o que a gente vê, e vivencia
E ouve e pensa
Não existe uma pessoa certa pra gente
Existe uma pessoa
Que se você for parar pra pensar
É, na verdade, a pessoa errada.
Porque a pessoa certa
Faz tudo certinho
Chega na hora certa,
Fala as coisas certas,
Faz as coisas certas,
Mas nem sempre a gente tá precisando das coisas certas.
Aí é a hora de procurar a pessoa errada.
A pessoa errada te faz perder a cabeça
Fazer loucuras
Perder a hora
Morrer de amor
A pessoa errada vai ficar um dia sem te procurar
Que é pra na hora que vocês se encontrarem
A entrega ser muito mais verdadeira
A pessoa errada, é na verdade, aquilo que a gente chama de pessoa certa.
Essa pessoa vai te fazer chorar
Mas uma hora depois vai estar enxugando suas lágrimas
Essa pessoa vai tirar seu sono
Mas vai te dar em troca uma noite de amor inesquecível
Essa pessoa talvez te magoe
E depois te encha de mimos pedindo seu perdão
Essa pessoa pode não estar 100% do tempo ao seu lado
Mas vai estar 100% da vida dela esperando você
Vai estar o tempo todo pensando em você.
A pessoa errada tem que aparecer pra todo mundo
Porque a vida não é certa
Nada aqui é certo
O que é certo mesmo, é que temos que viver
Cada momento
Cada segundo
Amando, sorrindo, chorando, emocionando, pensando, agindo, querendo,conseguindo
E só assim
É possível chegar àquele momento do dia
Em que a gente diz: Graças à Deus deu tudo certo
Quando na verdade
Tudo o que ele quer
É que a gente encontre a pessoa errada
Pra que as coisas comecem a realmente funcionar direito pra gente...
(Luis Fernando Veríssimo)


Encontrei esse texto na web afirmando ser de Luis Fernando Veríssimo, contudo, não encontrei nenhuma referência a esse texto no site do autor...

terça-feira, setembro 27, 2005

Reticências...

"As reticências são os três primeiros passos do pensamento que continua por conta própria o seu caminho" ( Mário Quintana )

A lógica do horror

POR MAX RODENBECK, DO THE NEW YORK REVIEW OF BOOKS
Ônibus destruído pelo atentado de 7 de julho de 2005, em Londres

Pare por um instante para lembrar o clima que dominou Washington imediatamente depois do 11 de Setembro. Havia pesar, raiva e perplexidade, seguidos bem de perto por uma implacável determinação de contra-atacar. Esta última reação evoluiu, dentro do establishment que determina as políticas americanas, para uma disposição de ir além da simples punição ou contenção do agressor, aproveitando para explorar o momento e promover uma agenda bem mais ampla.

Era compreensível. O passado americano oferece muitos exemplos da transformação de aparentes reveses em vantagens radicais e duradouras. O naufrágio do encouraçado Maine (1898) é um episódio que vem à cabeça, ou o do transatlântico Lusitania (1915) por um submarino alemão, ou o de metade da frota do Pacífico em Pearl Harbor (1941). Mais recentemente, a invasão do Afeganistão pelos soviéticos expôs um nervo que permitiu aos Estados Unidos e a seus aliados minar o Império do Mal, do mesmo modo como a investida de Saddam Hussein no Kuwait em 1990 revelou uma oportunidade para atingir vários objetivos americanos, desde esmagar o exército daquele homem tão perigoso até testar e fazer demonstrações de poder com as armas mais novas, passando por dar uma advertência e espantar rivais em potencial dos importantíssimos recursos petrolíferos do Golfo.

"Dizemos sem rodeios: eles são loucos, mas são loucos que têm sua própria lógica, seus ensinamentos, seu código, até seu Deus, e isso está o mais arraigado possível"
- Fiódor Dostoiévski

Essas reações excessivas e estratégicas tiveram todas alguma coisa em comum. Em cada um dos casos, a identidade e a natureza do inimigo estavam absolutamente claras. Na maioria deles também pouco se discutiu para esclarecer o que estava em jogo, as vantagens a ser conquistadas, os melhores meios de consegui-las (o que normalmente signifi- cou o uso de uma força arrasadora).

Mas, embora os ataques contra Nova York e Washington parecessem se encaixar na primeira parte desse modelo histórico, eles não se adequaram muito bem ao restante dele. Ali estava mais um dos "ataques traiçoeiros" que pontuaram a ascensão americana, exigindo outra resposta esmagadora. Mas onde estava o inimigo e quem era ele? Quais haviam sido suas razões para atacar? Qual era, além de meramente destruir aquele adversário, o prêmio estratégico a ser conquistado, prêmio que certamente deveria fazer jus a uma superpotência global imbatível? Quais eram os instrumentos apropriados a utilizar nessa missão mais abrangente? Quais eram os riscos?

Hoje está claro que, ao se lançar num contra-ataque grandiloqüente, a política americana de certa forma se perdeu. Talvez, no fim das contas, cheguemos à conclusão de que os proclamados valores da liberdade, da tolerância e do jugo da lei acabaram triunfando de alguma forma. Talvez cheguemos à conclusão de que os Estados Unidos garantiram vitórias estratégicas tangíveis. Mas pode-se dizer tranqüilamente que a oportunidade imediata oferecida pelo 11 de Setembro para promover ideais ou para ampliar a influência foi mal utilizada.

As ações americanas se mostraram terrivelmente caras. Menos tangíveis são a perda de prestígio e de credibilidade

A chamada Guerra Global contra o Terror, o GWOT, como a administração Bush rotulou no princípio a ofensiva contra forças do mal de definição bastante vaga, certamente teve algum sucesso - de modo mais notável no Afeganistão, onde, apesar de toda a instabilidade atual, a vida hoje é provavelmente menos sombria que sob o domínio do Taleban. Mas as ações americanas também se mostraram terrivelmente caras e ineficazes. Só o custo de todas as operações militares ofensivas para o contribuinte dos EUA desde o 11 de Setembro é estimado em cerca de US$ 300 bilhões. A ocupação iraquiana está custando cerca de US$ 60 bilhões ao ano, uma soma consideravelmente maior que o próprio PIB do Iraque e 20 % maior que o orçamento anual da cidade de Nova York. Outros custos incluem as vidas de quase 1.800 soldados americanos, assim como as de vários milhares de afegãos e as de dezenas de milhares de iraquianos, a maioria civis. Menos tangíveis são a perda de prestígio e credibilidade dos Estados Unidos diante de grande parte do mundo, e a galvanização de solidariedade a forças que podem ser hostis aos interesses americanos. Todas as pesquisas de opinião com muçulmanos realizadas desde o 11 de Setembro mostram uma desconfiança cada vez mais profunda em relação aos Estados Unidos. A porcentagem de sauditas que manifestam confiança nos EUA, por exemplo, encolheu de 60 % em 2000 para apenas 4 % em 2004. Sem contar que o principal culpado, Osama bin Laden, continua à solta.

Os Estados Unidos caíram exatamente na armadilha que os executores dos ataques de 11 de Setembro acreditavam estar armando. Criaram novos inimigos. Afastaram antigos aliados. E é possível dizer que não fizeram do mundo um lugar mais seguro, como mostraram os recentes ataques em Londres.

São múltiplos os motivos para esse fracasso. Pode-se citar, por exemplo, a predisposição para apelar às armas mais óbvias ao alcance, como bombas e mísseis, em vez de recorrer a meios de persuasão mais sutis. Outra falha institucional é a atribuição automática da culpa pela situação dos EUA a agentes externos, como os chamados estados-vilões, em vez levar em conta a responsabilidade das próprias políticas americanas (ou da imaginação de Washington) por ter ajudado, mesmo sem intenção, a criar seus inimigos. Outros fatores também tiveram um papel evidente, como o instinto político de buscar a glória, de explorar os medos da população e seu desejo por ações e também por vingança. Essas motivações políticas acabaram se traduzindo num péssimo excesso de entusiasmo por parte de comandantes e soldados.

Especialmente crucial, porém, foi a incapacidade do gigantesco aparato de inteligência dos EUA de realizar sua função básica, a de conhecer o inimigo. Ela se provou incapaz de fornecer o simples entendimento de contra quem ou o que os Estados Unidos estavam lutando. Era só Osama bin Laden e sua organização, a Al Qaeda? E, se fosse, qual era a daquele homem? O que atraía as pessoas às idéias dele? Qual o melhor meio de desarmar seu poder? O perigo era o "terror" em geral, ou uma variedade específica do fundamentalismo muçulmano, ou talvez uma falha na política do Oriente Médio que transformou a região inteira num campo fértil para a hostilidade contra os EUA?

Jonathan Randal apresenta Bin Laden e os jihadistas como ele não como fanáticos malucos, mas como agentes racionais

As respostas para essas perguntas foram ficando mais claras com o passar do tempo. Algo como um consenso parece de fato estar surgindo sobre as causas, os efeitos e a melhor maneira de lidar com o radicalismo islamita violento. O triste, no entanto, como mostram as publicações recentes sobre esse "inimigo", é que os conselhos mais sábios vêm emanando de fora do establishment que determina as políticas americanas. Só agora eles parecem estar conseguindo penetrar em Washington.

Jonathan Randal, o experiente correspondente de guerra que escreveu livros esclarecedores sobre a guerra civil do Líbano e sobre os curdos, já se interessava por Osama bin Laden muito antes do 11 de Setembro. Osama: the making of a terrorist (em português, Osama: a formação de um terrorista), um olhar leve e digressivo sobre o maior fugitivo do mundo, parte biográfico e parte analítico, não revela muitos fatos novos. A história básica do rico que adere à pobreza é, afinal, bastante conhecida hoje, e apesar dos longos anos de tentativas, Randal nunca ganhou na loteria jornalística que seria obter um encontro cara a cara com Bin Laden (curiosamente, o mais perto que chegou disso foi quando o mentor-mor da Al Qaeda instruiu um intermediário paquistanês a achincalhar Randal pela péssima qualidade da tradução para o árabe de seu pedido - recusado - de entrevista feito por escrito).

Bin Laden, líder da Al Qaeda, numa rara imagem feita em 2003 num lugar desconhecido do Afeganistão

No entanto, mesmo sem revelações marcantes, a abordagem de Randal, que combina materialismo e um bom senso impassível, é um contraste saudável a grande parte dos comentários sobre o assunto. Para começar, ele apresenta Bin Laden e os jihadistas globais que pensam como ele não como fanáticos malucos, mas como agentes racionais. A visão de mundo deles certamente difere da da maioria dos movimentos, já que se origina de um conjunto peculiar de pressuposições históricas, mas não deixa de ser uma visão de mundo plenamente coerente em si mesma.

Randal explica que, na percepção dos radicais islamitas, a verdadeira Cortina de Ferro criada pelo comunismo não foi a que separou a Europa Ocidental do Leste Europeu, mas sim a que isolou os muçulmanos da Ásia Central e do Cáucaso dos muçulmanos das áreas centrais para a religião. Por isso, engajar- se na jihad nessas regiões "era menos uma questão de expansionismo e mais uma questão de reconquistar o que havia sido perdido". Para eles, em outras palavras, o colapso da União Soviética marcou menos a conclusão da Guerra Fria e mais o ponto de partida de uma potencial reconquista muçulmana.

O significado de apreensões como essas foi muitas vezes ignorado pelos responsáveis pelas políticas ocidentais. Randal cita, por exemplo, Zbigniew Brzezinski, ex-assessor de segurança nacional dos EUA, que defendeu a intervenção americana no Afeganistão nos anos 1980 - que alimentou a jihad - perguntando o que importava mais para o mundo, "alguns muçulmanos revoltados ou... o fim da Guerra Fria". Analisados isoladamente, argumentos como esse podem parecer convincentes (se se assumir que foi o Afeganistão que derrubou definitivamente os soviéticos, o que é discutível). Mas, multiplicados pela série de outras iniciativas americanas de política externa que revoltaram ainda mais os muçulmanos, muitas vezes desnecessariamente, permitem começar a compreender os processos que estão por trás da crescente demonização dos Estados Unidos por parte dos islamitas. Como ressalta Randal em outro ponto, o problema era que os EUA "dominaram desvairadamente o planeta, mas recusaram-se a cuidar dos palestinos e caxemirianos, cada vez mais feridos". A conclusão a que muitos muçulmanos, e não apenas os radicais, chegaram foi que a aparente surdez dos Estados Unidos aos apelos muçulmanos não era simplesmente uma deficiência auditiva nacional, mas sim uma política deliberada que objetivava dividi-los e enfraquecê-los.


CRONOLOGIA

1993
Atentado a bomba contra o World Trade Center, em Nova York, mata seis e provoca US$ 500 milhões em prejuízo

1995
Carro-bomba explode na frente de posto militar dos EUA em Riad, na Arábia Saudita, e mata cinco

1996
Carro-bomba explode em frente a um edifício do serviço público dos EUA e deixa 168 mortos

1998
Atentados a bomba nas embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia matam 224

2000
Explosão em um destróier da Marinha dos EUA que estava atracado no porto de Áden, no Iêmen, mata 15

2001
No dia 11 de setembro, ataques coordenados, com quatro aviões comandados por seqüestradores, destroem as torres gêmeas do World Trade Center de Nova York, além de causar o desabamento do prédio 7 do complexo e abalar a estrutura de outros edifícios. O Pentágono também teve metade de sua construção atingida pela queda de um dos aviões, 2.749 pessoas morreram nas torres

EUA invadem o Afeganistão à procura de Osama Bin Laden


2003
EUA iniciam no dia 19 de março o bombardeio do território iraquiano A operação para derrubar Saddam Hussein termina no dia 1o de maio, após prisão do líder iraquiano
2004
Explosões simultâneas no metrô de Madri no dia 11 de março matam cerca de 200 pessoas, no pior atentado da história da Espanha
2005
Explosões simultâneas no metrô de Londres no dia 7 de julho matam 56 pessoas Um brasileiro inocente, Jean Charles de Menezes, 27 anos, é considerado suspeito pela polícia britânica e morto com oito tiros No Egito, 64 morrem após explosões em balneário

Foi o lento envenenamento das ações contra os Estados Unidos que deu a Bin Laden uma oportunidade histórica. O magrelo 17º filho dos 24 de um milionário já tinha feito bastante para inspirar os jovens muçulmanos com o romantismo da jihad anti-soviética no Afeganistão. Com o assassinato de seu mentor ideológico, o palestino Abdullah Azzam, em 1989, Bin Laden ascendeu a uma figura de destaque dentro da corrente ideológica crescente que era chamada, em árabe, de salafistas jihadistas - o salafismo é uma escola que prega a adesão restrita aos salaf, ou ancestrais, isto é, os primeiros companheiros e intérpretes do Profeta.

Só que Bin Laden viu-se, em meados dos anos 1990, isolado nas terras áridas afegãs, depois de ter sido despojado da nacionalidade saudita e expulso do Sudão, de governo ostensivamente "islamita". Entre seus companheiros de acampamento, maltrapilhos remanescentes da legião estrangeira muçulmana no Afeganistão, a chama da jihad ainda ardia. Mas faltava um escape satisfatório e imediato para seu entusiasmo. As insurgências radicais haviam sido derrotadas, ou fortemente restringidas, em vários fronts locais, do Egito à Argélia, passando pelo sul das Filipinas. A maior parte dos muçulmanos comuns desses países, observa Randal, não só deixara de aderir à luta como também questionava as premissas que a sustentavam.

Bush, durante pronunciamento sobre religião e política em junho de 2004
Como os "inimigos próximos" da Ásia e do Oriente Médio estavam se mostrando inconvenientemente resistentes, surgiu a idéia de transferir o ímpeto jihadista para o "inimigo distante". Atingir os Estados Unidos marcaria pontos por si só, já que o país era visto como um pilar de sustentação de regimes muçulmanos comprometidos, como os do Egito e da Arábia Saudita, que Bin Laden tinha como alvo. A ousadia de atacar a mais forte potência mundial colocaria o Islã (ou a versão que os jihadistas têm dele) no cenário político como uma força de estatura equivalente. Isso não apenas inspiraria os jihadistas relutantes a aderir à luta; também colaboraria para consolidar o sentimento crescente, entre os muçulmanos, de que sua fé estava sendo ameaçada e precisava de defesa.

Os ataques de 11 de Setembro, mais destrutivos do que poderia ter sonhado quem os planejou, foram o resultado extremo desse modo de pensar. "Os ataques contra Nova York e Washington foram idealizados não somente como um troco pelas injustiças reais e imaginárias das quais, para ele, os muçulmanos tinham sido vítimas, mas também para deflagrar esse incêndio.''

Trata-se de uma estratégia pouco original. Em Globalized Islam: the search for a new Ummah (O Islã globalizado: a busca por um novo Ummah), Olivier Roy, um dos principais acadêmicos do islamismo moderno na França, observa paralelos marcantes entre os jihadistas de hoje e a esquerda radical da Europa nos anos 1960 e 1970. Os dois movimentos alimentaram-se de reservatórios sociais semelhantes de jovens alienados e deslocados. Escolheram símbolos (barbas, armas e textos "sagrados": o Alcorão substituindo Marx; Sayed Qutb, o egípcio cujas teorias inspiraram a Irmandade Muçulmana, no lugar de Gramsci) e alvos ("imperialismo", "globalização", "americanização") parecidos. A idéia jihadista de uma Ummah - ou nação - pan-islâmica, diz Roy, lembra a idéia trotskista do proletariado: "Uma comunidade imaginária e portanto silenciosa que confere legitimidade aos pequenos grupos que fingem falar em seu nome". O triunfo do Islã é propalado, como já foi um dia o do socialismo, como "inevitável".

Jonathan Randal remete a mais ecos com o depoimento à Raskólnikov de um convertido à Al Qaeda que havia sido preso, Kemal Daoudi. Filho de imigrantes argelinos que viviam na França, Daoudi era um estudante de engenharia brilhante. Mas, quando a pobreza obrigou sua família a se mudar para o subúrbio, subitamente despertou para o que chamou de "tratamento abominável dado a todos os 'eus' em potencial, que haviam sido condicionados a virar subcidadãos, que só serviam para trabalhar e pagar pela aposentadoria dos franceses 'de verdade' quando a base da pirâmide etária francesa estreitar".

O neofundamentalismo representa uma recodificação deliberada do Islã e do que significa ser muçulmano

Os jihadistas modernos também tomaram emprestada a idéia revolucionária clássica de que o modo mais eficaz de levantar as massas acuadas é incitando seus dominadores a agir com brutalidade, revelando assim o caráter supostamente verdadeiro - o exploratório - do relacionamento entre eles. O terrorismo obriga as sociedades "burguesas" a tirar sua máscara e mostrar suas garras, e portanto alerta o proletariado - ou nesse caso a Ummah, ou nação muçulmana - do real perigo que enfrenta. À luz dessa visão, é interessante o fato de referências extensas à autobiografia de Menachem Begin, The revolt (A revolta), de 1951, terem sido encontradas entre os arquivos de computador capturados num refúgio da Al Qaeda em Cabul. Como líder do grupo paramilitar Irgun, nos anos 40, o futuro primeiro-ministro israelense pregava o uso do terror para fazer a política se mexer.

Do mesmo modo como as Brigadas Vermelhas, acreditavam que seus atos expunham o fascismo latente do Estado italiano, os jihadistas acreditam ter desnudado a face verdadeira do imperialismo cruzado ocidental. Deixando de lado as muitas e variadas justificativas para as invasões punitivas do Afeganistão e do Iraque pelos EUA, o simples fato de haver uma intrusão militar ocidental em países muçulmanos já reforça, visual e visceralmente, a alegação da Al Qaeda de que o Islã está engajado numa guerra para sobreviver. Não foi à toa que o grupo de Bin Laden até tenha apoiado a reeleição do presidente Bush ou que seus aliados abracem com entusiasmo o que ele chama de análises culturais "preguiçosas" de pensadores ocidentais como Samuel Huntington.

Gilles Kepel, a mais conhecida autoridade francesa sobre o Islã político, observa em seu livro mais recente, The war for muslim minds (A guerra pelas mentes muçulmanas), mais uma semelhança entre a esquerda radical e a jihad islâmica, esta criada por impressões externas equivocadas. Huntington e outros intelectuais facilitaram a "transferência" sutil das hostilidades estratégicas utilizadas pelo Ocidente na Guerra Fria.

Há uma geração, muitos integrantes da esquerda radical deixaram de perceber uma transformação decisiva daquela época - a silenciosa absorção de seu eleitorado imaginário, o "proletariado", pela supostamente vil "burguesia". Os islamitas radicais de hoje parecem, de modo semelhante, não estar se dando conta de que eles próprios são produto da globalização a que professam resistência. Um dos aspectos desse ponto é o que Roy caracteriza como o caráter desterritorializado do islamismo moderno. Nenhuma nacionalidade domina a Al Qaeda. Muitos de seus ativistas parecem ser errantes, freqüentemente originados, como Kemal Daoudi, de regiões onde os muçulmanos vivem como minoria. O que os une é uma sensação comum de alienação. Quando se chamam uns aos outros de irmãos e adotam novos títulos de parentesco - Abu-isso ou Abu-aquilo -, parecem estar tentando criar uma espécie de nação virtual.

Tanque dos EUA vigia fronteira iraquiana, 2003

Em Understanding terror networks (Entendendo as redes de terror), Marc Sageman, sociólogo e ex-analista da inteligência, constrói um perfil das redes sobrepostas que acredita formarem a Al Qaeda. Ele identifica várias conexões, entre elas os fortes laços familiares e de amizade entre muitos dos integrantes, além de "aglomerados" de determinadas nacionalidades, como os grupos de origem marroquina responsáveis por vários ataques na Europa. A conclusão dele é que talvez seja mais exato descrever a violência jihadista como derivada do "amor pelos companheiros", e não como resultado do "ódio ao elemento externo".

Olivier Roy vai mais além e sugere que, embora os jihadistas salafistas (a quem chama de neofundamentalistas) acreditem representar a tradição, o que eles representam é uma forma negativa de ocidentalização. Tanto é assim que uma das principais inovações doutrinárias dos neofundamentalistas é o descarte da visão tradicional da jihad armada como uma responsabilidade coletiva.

O que a alteração representa, num sentido sutil, é a rejeição da autoridade do patriarca contemporâneo, seja ele identificado como o rei da Arábia Saudita ou simplesmente como o chefe de uma família muçulmana problemática. Assim como entre os seguidores ou delinqüentes baratos dos próprios Estados Unidos, esse pai já está, na experiência de muitos recrutas da jihad, bastante desacreditado pelo fracasso ou pela simples ausência. Essa rejeição, no entanto, aumenta o estresse sobre os jovens de sociedades fortemente paternalistas. Não é para menos que os códigos de vestimenta são marcas tão importantes para identificar os salafistas. A túnica curta e a barba desgrenhada, ou, no caso das mulheres, vestes negras que cobrem todo o corpo, têm o objetivo de lembrar os primeiros muçulmanos, cuja devoção a Maomé era intocada. Mas em grande parte do Oriente Médio essas mesmas roupas também sugerem uma rebelião contra a convenção das vestes ocidentais ou dos costumes folclóricos regionais.

A maioria das sociedades em que os muçulmanos vivem já está em grande parte secularizada, ou seja, moderna o suficiente para produzir condições perigosas de anomia e ódio sem direção. Isso obviamente acontece com as minorias muçulmanas no Ocidente, mas também ocorre com a juventude recém- urbanizada e freqüentemente desempregada, ignorante e sexualmente reprimida de cidades como Casablanca, Cairo e Riad. O neofundamentalismo pode ser uma força que impulsiona a secularização, já que representa uma recodificação deliberada do Islã e do que significa ser muçulmano. Em vez de uma fé de base territorial e tradicional, a versão do Islã deles é coisificada, desprovida de um cenário regional e reconstruída em oposição aos desafios que acreditam enfrentar, especialmente a superioridade militar e a presença americana em regiões do mundo muçulmano. A religião é substituída por uma religiosidade na qual a "resistência" torna- se o critério principal para a afiliação. O próprio Bin Laden uma vez declarou, numa entrevista, que o objetivo da Al Qaeda é dar à jihad o "status de devoção".

O discurso desse novo Islã, incorpóreo e adaptado, como se apresenta nos websites, por exemplo, tende a seguir o modelo de perguntar qual é a "opinião do Islã" sobre vários assuntos. Mas as respostas para tais perguntas, observa Roy, importam menos que a abordagem implícita nelas. A premissa não-declarada, argumenta ele, é que o Islã não é mais uma sociedade unificada de fiéis, mas sim uma que está sendo confrontada por influências modernas e seculares.

Fila de mulheres na porta de prisão no Iraque
A ordem cartesiana desses argumentos é um tanto abstrata demais. Por mais "secularizado" que o ambiente que cerca sua empreitada seja, o esforço dos islamitas para erguer um sistema dominante não-secular (com leis feitas por Deus e não por palavras, leis atemporais e não temporais) ainda possui um enorme apelo romântico, e ainda consegue mobilizar bastante força. Roy também negligencia os antecedentes não-ocidentais do jihadismo, como as várias revoltas locais.

A análise árida e racional de Roy representa, mesmo assim, um respiro bem-vindo em face tanto do refrão neoconservador de que o DNA da violência islamita está de alguma forma entranhado no Alcorão quanto da idéia popular liberal de que o terrorismo é simplesmente uma reação contra a intrusão ocidental. Ele acredita que muito do radicalismo islâmico representa uma tentativa de islamizar "um espaço já existente para o eleantiimperialismo e a contestação", o ressentimento pelo domínio da tecnologia e dos mercados pelos países ricos. O radicalismo islâmico apenas calhou de ser, neste momento, o produto com a embalagem mais chamativa num mercado de antídotos para a globalização que em sociedades mais estáveis e confortáveis é atendido, por exemplo, pelo ativismo ambiental.

A glorificação do suicídio - chame de martírio, se quiser, ou de arrebatamento - é, evidentemente, uma distorção especialmente doentia. Como afirma Faisal Devji em seu longo e brilhante ensaio sobre as bases éticas da jihad moderna, Landscape of the jihad (Panorama da jihad), os ataques suicidas a bomba também representam mais uma ruptura com a tradição muçulmana sunita, e podem ser na verdade um empréstimo das tradições shia, que os salafistas afirmam abominar. Mas, mais que ser atos de agressão, os ataques suicidas têm a intenção de mandar um recado, uma declaração de fidelidade, um sinal extremo de comprometimento total. O martírio, observa Devji com razão, "só ganha significado se for testemunhado pela mídia". Ele é, em resumo, um método horripilante de fazer publicidade.

O jihadismo global pode ser encarado como "moderno" em outros aspectos. Gilles Kepel tem uma descrição famosa da estrutura descentralizada da Al Qaeda, que afirma ser semelhante à de uma empresa de consultoria ou de franchising, "com Bin Laden sendo nada mais que o logotipo para operações triviais gerenciadas por microempresários independentes, que trabalham sob licenciamento para fornecer terrorismo". Utilizando uma terminologia também emprestada do mundo dos negócios, Devji caracteriza as afiliadas locais da organização como "investimentos especulativos". Alguns vingam. Outros fracassam.

Devji, que ensina história na New School, em Nova York, leva ainda mais longe a analogia entre a Al Qaeda e instituições globais como multinacionais e ONGs. Como movimento supranacional, sugere, a jihad atual pode ser interpretada como parte do que ele vê como a tendência básica da era pós-Guerra Fria: a substituição da política territorial por questões éticas. O próprio Bin Laden já declarou que os Estados Unidos não são o inimigo principal, e que o inimigo é o "cruzadismo global", uma abstração quase tão vaga quanto "terror". Os jihadistas tendem a ver o "Ocidente" como a imagem invertida do "Islã", ou, em outras palavras, como uma entidade metafísica. Ao observar que os líderes jihadistas costumam invocar pecados americanos como a não-assinatura do tratado de Kyoto ou os abusos de Guantánamo e Abu Ghraib, Devji sugere que a jihad deles é, na essência, um grito pela justiça universal, "um apelo perverso à ética".

É nesse sentido, afirma Devji, que o fi- lósofo francês Jacques Derrida descreveu os jihadistas como comparáveis àqueles que postulam o universalismo da cultura ocidental moderna. A guerra contra o terror transforma- se, dentro dessa visão, numa espécie de reação auto-imune, em que ideais caros como as liberdades civis ou o livre movimento do capital têm de ser sacrificados em nome do combate ao câncer jihadista. Talvez, diz Devji, os EUA possam até ser chamados de um "Estado suicida", "seu martírio refletindo os muitos martírios da jihad". Sem dúvida trata-se de um vôo alto demais da imaginação acadêmica. A guerra americana contra o terror não está indo tão bem. Nem a jihad.

Vinte anos atrás, Olivier Roy argumentou, em seu inteligente mas claramente prematuro livro The failure of political Islam (O fracasso do Islã político), que a autodeclarada pureza ideológica dos islamitas acabaria inevitavelmente diluída pelas necessidades práticas da política. Ele argumenta hoje que o jihadismo global também carrega em si as sementes de sua própria destruição, como um vírus que mata seu hospedeiro antes que este consiga transmitir a doença. A crueldade da Al Qaeda e suas ramificações, que já atingiram tantos países, já assombra e repugna muitos muçulmanos. E, com o fracasso na mobilização das massas muçulmanas, os jihadistas devem ser considerados não como uma ameaça estratégica capaz de alterar o equilíbrio de poder, mas como ameça à segurança que pode ser contida.

Isso não significa, na visão de Roy, que se devam evitar ações contundentes contra os jihadistas, ou que haja esperanças realistas de negociar com os radicais mais extremos. Significa apenas que combater uma "guerra global contra o terror" é uma tolice - "uma metáfora, não uma política", nas palavras dele - porque corre o risco de infundir em disputas locais os objetivos milenarista dos jihadistas. Isso, está claro, é exatamente o que está acontecendo; ao velho grito de guerra da Palestina une-se agora o do Iraque.

Gilles Kepel expõe de forma especialmente clara como a questão insuflou a chama da Al Qaeda. Como Kepel observa, a Al Qaeda escolheu lançar sua ofensiva de terror exatamente no momento em que a cobertura da segunda intifada palestina havia elevado o ódio muçulmano ao ponto máximo de ebulição. É significativo que Bin Laden tenha feito a primeira admissão declarada da responsabilidade pelo 11 de Setembro pouco depois da reconquista israelense de cidades palestinas, no primeiro semestre de 2002. A escolha indica que ele quis insinuar que a destruição sangrenta do campo de refugiados de Jenin representava uma espécie de justifi- cativa para as atrocidades da Al Qaeda.

Manipulada com cinismo ou não, a tragédia palestina claramente ajudou a criar um clima no mundo muçulmano para o ataque ao principal suporte de Israel, os Estados Unidos. Esse clima desmoronou diante das evidências dos excessos dos jihadistas, e principalmente em reação à incrível quantidade de sangue muçulmano que eles derramaram. Mas é reconstruído pelos equívocos americanos. É de se imaginar qual seria hoje a força da jihad global se o maior inimigo dela não tivesse sido maculado por Guantánamo, Abu Ghraib e outros desvarios, ou pela associação com as piores políticas de Israel. Como todos os escritores abordados aqui concordam, de uma maneira ou de outra, o projeto jihadista está mesmo provavelmente fadado ao fracasso.

Devji, por exemplo, acredita que o grande impacto do jihadismo não estará nos seus atos de violência, mas na ameaça que ele representou às estruturas tradicionais da autoridade muçulmana.

Numa linha semelhante, Gilles Kepel afirma que subliminarmente a todas as racionalizações dos jihadistas está o temor histórico que os muçulmanos sentem pela fitna, uma palavra que significa cisma interno, revolta e caos. O papel tradicional dos sábios religiosos era garantir proteção contra essa ameaça. Mas, ao se arrogar o direito de assumir a ofensiva contra o Ocidente que causa a fitna, os jihadistas acabaram infligindo a fitna a suas próprias sociedades.

Talvez esse caos revele-se produtivo no longo prazo. Por enquanto, há vários modos para lidar com a violência jihadista. Um deles é fazer um esforço para cuidar dos problemas geopolíticos que agitam os muçulmanos, entre eles a questão palestina. Outro é provar a força e o sucesso dos valores seculares e liberais incentivando a inclusão de tendências islamitas tolerantes. E há a abordagem mais óbvia, clássica, a de que uma política laboriosa funciona. Nas palavras humildes de Jonathan Randal, "se há uma resposta para um fenômeno tão resistente quanto o terrorismo, suspeito que ela esteja num trabalho de abelhinha, aquele acúmulo de detalhes demorado, paciente e chato, mas profissional".



segunda-feira, setembro 26, 2005

Cidadão ou Súdito?

por Alexandre Garcia
Publicado na Gazeta de Cuiabá - MT


Domingo cedo eu ia de táxi de Ipanema ao Aeroporto do
Galeão e, antes de entrar no túnel Rebouças, o
motorista festejou: "Estamos com sorte;o túnel está
aberto." Ainda pela madrugada, o túnel fechara mais
uma vez porque bandidos interrompem o tráfego para
roubar carros, armados de fuzis automáticos e
metralhadoras. Significativamente, o túnel passa
abaixo dos pés do Cristo Redentor... Na quinta-feira à
noite, eu havia feito uma Palestra no Hotel Sheraton,
em frente à favela do Vidigal, e até uma hora antes
não se sabia se a Avenida Niemeyer estaria bloqueada
ou não pelos tiroteios. Quando cobri a guerra no
Líbano, em 1982, não imaginei que iria encontrar
situação semelhante na Cidade Maravilhosa, em pleno
século 21. E como reage o governo? Tentando desarmar
as pessoas de bem, que têm armas para sua legítima
defesa.

Dos milhares de armas que as pessoas entregaram,
algumas caíram em mãos dos bandidos. Sabe-se de 83 dos
melhores exemplares - algumas já encontradas para
confirmar a troca de mãos. Não se sabe do resto. As
velhas, enferrujadas, das viúvas, já passaram pelo
rolo compressor. Diz-se que as armas estão sendo
recolhidas para que não caiam nas mãos dos bandidos...

Enquanto isso, em São Paulo, no bairro chique de
Itaim, quase 30 edifícios já foram assaltados sem
pressa. Os bandidos entram e ficam até seis horas a
vasculhar os apartamentos, com a confiança de que não
haverá reação porque, afinal, as pessoas não têm armas
para defender seus lares. No meu estado natal a gente
aprende que se nos agachamos, alguém vai acabar nos
montando.

Não vejo problema em implantar o maior rigor no
registro de armas. Exame de equilíbrio emocional, de
ficha policial e de adestramento no manejo da arma são
necessários. Mas não vejo por que impedir o cidadão de
exercer o elementar direito da legítima defesa. Além
disso, proibir venda de armas de nada vai adiantar,
porque o bandido não compra arma na loja, mas na ponta
do tráfico. Desarmar pessoas de bem não é vantagem
alguma. O Estado precisa é desarmar o bandido. Que, no
Brasil, não toma armas das residências das famílias
mas dos quartéis do Estado. As outras vêm do exterior,
no contrabando. Vamos gastar 600 milhões de reais com
o referendo. E se esse dinheiro fosse aplicado em
equipar e treinar policiais?

Pesquisa da semana passada mostra o pavor que impera
nas capitais. Em Belém, três em cada cinco famílias
declaram viver em área sujeita à violência ou
vandalismo. No Rio, duas em cada cinco. O índice menos
ruim é o de Brasília: uma em cada cinco famílias
declara-se moradora de área de risco para a segurança.
Vinte por cento! Nosso índice mais baixo de violência
deve ser parecido com o do Iraque, onde todo mundo
anda armado.

Aqui se mata mais, sem dúvida. Mais de cem por dia.
Nessa guerra, em vez de desarmar o atacante, tratamos
de desarmar a vítima.

Vai nos restar o carro blindado, a grade nas portas e
janelas, as câmeras de big-brother orwelliano, a folha
de pagamento dos seguranças, o colete à prova de
balas. E o medo. De que lado está o Estado? Se quiser
todos desarmados, que reforme a Justiça e a polícia,
para termos lei e segurança.



Brasileiro com medo não é cidadão; é súdito.

sexta-feira, setembro 23, 2005

"Marca-passo cerebral" pode combater depressão

O marca-passo que age no cérebro e as terapias que influem nos pensamentos irrealistas fazem a pessoa voltar a ter uma vida normal


Nunca se investiu tanto em diferentes recursos terapêuticos para combater a depressão. A grande notícia é que a Food and Drug Administration (FDA), órgão que controla alimentos e remédios nos Estados Unidos, anunciou o uso de marca-passo para quem sofre de depressão severa - pessoas refratárias a mais de três drogas diferentes e cujos sintomas são difíceis de controlar. Parecido com o estimulador cardíaco, e já usado na Europa e no Canadá com bons resultados, o novo marca-passo é implantado na região torácica superior (leia o quadro abaixo). Os impulsos elétricos têm a função de estimular a região cerebral onde se processa a depressão, mais conhecida por sistema límbico. ''Essa técnica é revolucionária, porque será possível atender indivíduos que não respondiam a outros tratamentos'', diz o psiquiatra Evandro Gomes de Matos, coordenador do Núcleo de Atendimento de Transtornos de Ansiedade da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). ''A vantagem é que nem se percebe o impulso elétrico.''

Segundo os estudos avaliados pela FDA, 18% dos pacientes testados se disseram curados com o aparelho; 35% sentiram os sintomas reduzidos significativamente; e 57% tiveram algum benefício após dois anos. Até que o mecanismo seja ajustado, o portador do marca-passo - anteriormente utilizado em casos de epilepsia - poderá ter paralisia temporária das cordas vocais, rouquidão, tosse, formigamento na laringe e sensação de falta de ar. Mas são sintomas leves, que não chegam a desencorajar a adesão à novidade.

Dos 340 milhões de pessoas que sofrem de depressão no mundo, 75% nunca passam por qualquer tipo de tratamento contra a doençal

Fonte: OMS

O aparelho funciona por cinco anos. Depois desse período, os médicos aconselham deixá-lo no corpo, evitando uma nova cirurgia para a retirada. Por enquanto, o maior ''efeito colateral'' é o preço: US$ 20 mil, já incluída a implantação. ''Como são raros os procedimentos remunerados em psiquiatria pelo sistema de saúde ou pelo convênio médico, poucos pacientes terão condições de comprá-lo'', afirma a psiquiatra Helena Calil, professora de Psicofarmacologia da Universidade Federal de São Paulo.

O marca-passo é um grande avanço contra a depressão, mas há outros tratamentos desse tipo. A estimulação magnético-transcraniana é uma dessas novas alternativas. Ela ativa, por meio de ondas magnéticas, determinadas regiões do cérebro, cuja função maior é a modificação do humor. ''É uma linha de pesquisa ainda experimental, que pode ser considerada promissora e, espera-se, vir a ter utilidade na prática clínica'', diz o psiquiatra Ricardo Moreno, coordenador do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas de São Paulo. No Brasil, a Universidade de São Paulo (USP) vem testando-a com bons resultados. O mesmo acontece nos Estados Unidos. Lá, o FDA acompanha um amplo estudo feito com a técnica em pacientes de todo o país. Se os resultados continuarem a ser positivos, o órgão deverá aprovar seu uso a partir do ano que vem.

AMOR

''Há três anos, quando tive depressão pela primeira vez, fiz um tratamento com remédios, sem resultado. Migrei para a terapia e melhorei bastante. Mais tarde, fiquei sem trabalhar por um ano em decorrência de uma cirurgia no joelho. Afundei novamente. Voltei à terapia e resolvi abrir uma comunidade no Orkut para trocar idéias com outros deprimidos. Por meio do site, conheci minha atual mulher, Aline, que também tentava superar a doença. Nosso amor foi o bote final na depressão. Acabei me mudando para a cidade onde ela morava. Fui atrás da minha felicidade''_____________Fotos: Maurilo Clareto/ÉPOCA

FERNANDO CABRAL, 40 anos, analista de sistemas


ESTILO DE VIDA

''Passei por quatro crises de depressão. Nas três primeiras, tratei-me com remédios. Na quarta, cansada da medicação, resolvi tentar algo novo. Criei o que chamo de método da cegueira voluntária. Peço para o Fernando, meu marido, olhar o mundo por mim, em vez de acreditar na visão distorcida da realidade que a depressão traz. Adotei também uma alimentação mais saudável e me concentro em pensamentos positivos. Agora me sinto curada. Assumi que, na depressão, vejo tudo de forma equivocada. Nem tomo grandes decisões nesse período porque sei que posso querer voltar atrás''

ALINE CABRAL, 29 anos, administradora (foto acima)



"Estas são intervenções sérias para uma doença séria"

sexta-feira, setembro 16, 2005

De como educar os filhos no Brasil

Filho: Por que eu tenho que ir à escola pai? Aquilo é um saco!

Pai: Para zuar um pouquinho, ver os amigos, conhecer moças bonitas...

Filho: Meus colegas dizem que os pais deles insistem na opinião de que eles vão lá para aprender...

Pai: Filho, veja bem, lá você não vai aprender nadinha. Vão lhe dizer um monte de coisas que não tem valor nenhum, e na maioria das vezes, tudo do pior modo possível...

Filho: Mas por que os pais dos meus colegas não falam isso pra eles?

Pai: Porque eles não sabem. Eles se educaram nisso aí. Eu estudava por fora na faculdade, e ia pra lá para conseguir o diploma sem maiores problemas.

Filho: Vou à escola para conseguir o quê, então?

Pai: Para conseguir se formar e estar autorizado a ir a uma universidade, para poder atuar numa profissão mais alta do que a de quem não tem diploma. Só vai adquirir a autorização social, não tem nada a ver com aprender.

Filho: Por que não deixam as pessoas fazerem vestibular mesmo sem formação na escola? Ué, se passarem estarão com condição de ir à universidade! Não é?

Pai: Não, não é filho. Aliás, deveria ser por aí mesmo, mas o vestibular não avalia direito, então precisam garantir por meio de uma papelada enorme que o sujeito está apto. Apto estará ele para dizer um monte de abobrinhas e para pensar tudo errado. Isso é interessante para os que governam a cultura (e por tabela, tudo o mais), pois ensinam o que querem e do modo que quiserem. Aqueles que confiam a educação dos filhos a isso aí não sabem nada. Aprender mesmo, só em casa com os professores que a gente escolher.

Filho: Mas eu não estou numa das melhores escolas?

Pai: Ora, numa das melhores para zuar, ver os amigos..!

Filho: Eu não consigo entender o que os meus colegas fazem no tempo em que eu estudo com os professores que o senhor escolheu, e no tempo em que treino artes marciais?

Pai: Assistem a televisão, jogam no computador, brincam, lêem gibis, apurrinham os pais, jogam futebol e outros esportes similares, torcem para seus times etc.

Filho: Mas, isso deve ser chato pra burro, né?

Pai: E é. Pena que eles não sabem fazer outra coisa. Não podem nem vislumbrar o alcance de seu horizonte de consciência.

Filho: Isso eu já percebi, pai! Por isso, não conseguem entender que a escola é imprestável, que não tem nada a ver com o ensino, embora considerem-na uma chatice. Pensam que sabem ler e escrever, mesmo não entendendo nada do que lêem. Escrevem tudo errado. Esquecem que logo vão precisar de estudo para seu sustento físico, mental e espiritual e se encontrarão vazios disso no futuro!

Pai: É isso. Mas, não só no futuro... Já são vazios.

Desenvolva a idéia de aprender algo com sujeitos aptos a lhe ensinar algo de valor. E também o auto-didatismo. Atente ao fato de você poder se tornar um oásis em meio a tanta incompreensão e vulgaridade. Coragem! Talvez, consiga sair daqui algum dia, e ir a um lugar onde valorizem mais a Sabedoria. Mas tenha sempre em mente que o ponto de apoio deve estar em você mesmo e em Deus, e não em um lugar ou em uma pessoa.

Filho: Que baita “responsa”...

Pai: É isso que nos faz humanos. Senão poderíamos ser como os cães, não haveria necessidade de tanta parafernália. Seus professores querem lhe ensinar um monte de coisas, pra um dia você trabalhar, ganhar uma graninha, sustentar sua família, e ser tão chato, burro, hedonista, melancólico como eles. Isso é uma animalidade mais sofisticada.

Filho: Só falta aos professores e aos alunos irem de quatro às aulas! Ahahahah Estudar para depois só comer, se distrair, dormir, trepar, trabalhar amargamente, Blergh....!!! Era melhor nascer como um esquilo, tartaruga, tigre, macaco..!

Pai: Está aprendendo...!

Para saber mais, há um site deveras elucidativo: http://homeschoolinformation.com/


original: http://belprob.blogspot.com/2005/09/de-como-educar-os-filhos-no-brasil.html

sexta-feira, setembro 02, 2005

Como programadores matam dragões

A SITUAÇÃO:
“No alto do castelo, há uma linda princesa - muito carente - que foi ali trancada, e é guardada por um grande e terrível dragão”

Art by Rowena

OS DESFECHOS NA ABORDAGEM DE CADA ESTILO:


Java
- Chega, encontra o dragão, desenvolve um
framework para aniquilamento de dragoes em multiplas
camadas, escreve varios artigos sobre o framework mas
nao mata o dragao

.NET - Chega, olha a ideia do Javanes e a copia, tenta
matar o dragao, mas é comido pelo reptil

C - Chega, olha para o dragao com olhar de desprezo,
puxa seu canivete, degola o dragao, encontra a
princesa, mas a ignora para ver os ultimos checkins no
cvs do kernel do linux

C++ - cria um canivete basico e vai juntando
funcionalidades até ter uma espada complexa que apenas
ele consegue entender ... mata o dragao mas trava no
meio da ponte por causa dos memory leaks

COBOL - Chega, olha o dragao, pensa que ta velho
demais para conseguir matar um bicho daquele tamanho e
pegar a princesa e, então, vai embora

Pascal - Se prepara durante 10 anos para criar um
sistema de aniquilamento de dragao ... chegando lá
descobre q o programa só aceita lagartixas como
entrada

VB - monta uma arma de destruição de dragoes a partir
de varios componentes, parte pro pau pra cima do
dragao e, na hora H, descobre que a espada só funciona
durante noites chuvosas...

PL/SQL - Coleta dados de outros matadores de dragão,
cria tabelas com N relacionamentos complexidade
ternaria, dados em 3 dimensões, OLAP, demora 15 anos
para processar a informação. Enquanto isso a princesa
virou lésbica

Ruby - chega com uma p*t* fama, falando que é o melhor
faz tudo, quando vai enfrentar o dragão mostra um
videozinho dele matando um dragao ... o dragão come
ele de tédio

Smalltalk - chega, analisa o dragao e a princesa, vira
as costas e vai embora, pois eles sao muito
inferiores.

shell - cria uma arma poderosa para matar os dragoes,
mas, na hora H, nao se lembra como usá-la

shell(2) - o cara chega no dragão com um script de 2
linhas que mata, corta, stripa, empala, pica em
pedacinhos e impalha o bicho, mas na hora q ele roda o
script aumenta, engorda, enfurece, e coloca alcool no
fogo do dragão

ASSEMBLY - acha que ta fazendo o mais certo e enxuto,
porém troca um A por D, mata a princesa e transa com o
dragão

Fortran - Chega desenvolve uma solução com 45000
linhas de codigo, mata o dragão vai ao encontro da
princesa ... mas esta o chama de tiuzinho e sai
correndo atras do programador java que era elegante e
ficou rico

FOX PRO - Desenvolve um sistema para matar o dragão,
por fora é bunitinho e funciona, mas por dentro está
tudo remendado, quando ele vai executar o aniquilador
de dragoes lembra que esqueceu de indexar os DBF

ANALISTA DE PROCESSOS - Chega ao dragão com duas
toneladas de documentação desenvolvida sobre o
processo de se matar um dragão genérico, desenvolve um
fluxograma super complexo para libertar a princesa e
se casar com ela, convence o dragão que aquilo vai ser
bom pra ele, e que não será doloroso. Ao executar o
processo ele estima o esforço e o tamanho do estrago
que isso vai causar, a assinatura do papa, do buda e
do Raul Seixas para o plano, e então compra 2 bombas
nucleares, 45 canhões, 1 porta aviões, contrata 300
homens armados até os dentes, qdo na verdade
necessitaria apenas da espada que estava na sua mão o
tempo todo.

CLIPPER: Monta uma rotina que carrega um array de codeblocks para
insultar o dragão, cantar a princesa, carregar a espada para memória, moer
o dragão, limpar a sujeira, lascar leite condensado com morangos na
princesa gostosa, transar com a princesa, tomar banho, ligar o carro,
colocar gasolina e voltar pra casa. Na hora de rodar recebe um "Bound
Error: Array Access" e o dragão come ele com farinha.


original: http://www.tipos.com.br/item/27829
chupinhado:
http://www.javafree.org/javabb/viewtopic.jbb?t=850780

Silver Nano Health

O sistema Silver Nano Health da Samsung está numa linha de revolucionárias máquinas de lavar roupa com entrada frontal que elimina 99% das bactérias na lavagem graças às suas propriedades desinfetantes e antibióticas. A máquina dotada do sistema também propicia às roupas uma proteção antibacteriana que dura por até um mês.


Máquina de lavar, condicionador de ar e geladeira terão tecnologia antibacteriana


O sistema estará disponível em cinco modelos de máquinas, com capacidade para cinco até sete quilos de roupa, na Coréia do Sul. O sistema utiliza íons de prata em escala nanométrica para esterilizar as roupas, e também pode ser aplicado a alimentos e ao ar, em geladeiras e condicionadores de ar.

Outra vantagem do Silver Nano Health System, além da extrema eficiência, diz o fabricante, é que ele proporciona uma economia a longo prazo no custo de manter o equipamento, seja uma geladeira, uma lavadora de roupas ou o condicionador de ar.

original: http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI650637-EI4801,00.html