domingo, abril 10, 2005

Próxima versão do Windows?

Há dez anos, a Microsoft apresentou o Windows 95 de uma forma que sugeria que a chegada do produto era equivalente ao momento em que os seres humanos ficaram eretos pela primeira vez.

A empresa gastou cerca de US$ 200 milhões no lançamento do sistema operacional. Isto pagou pelas festividades no campus da Microsoft (com Jay Leno como mestre de cerimônia), o direito de usar a canção "Start Me Up" dos Rolling Stones em uma campanha de publicidade mundial e a permissão para iluminar à noite o edifício Empire State com o logo do Windows.

Também encheu a edição daquele dia do jornal "The Times" de Londres com propaganda do Windows 95, tornando aquela edição do jornal gratuita pela primeira vez em 307 anos.

O que foi notável no lançamento do Windows 95 foi a submissão dos consumidores, que participaram de bom grado do espetáculo. A Microsoft acertou com as lojas do varejo a abertura à meia-noite do dia do lançamento do sistema, uma estratégia que provou ser tão irresistível quanto holofotes em uma estréia de Hollywood. Uma rede contou cerca de 50 mil pessoas fazendo fila em suas lojas por todo o país.

Aquelas pessoas estavam atrás de um sistema operacional --um encanamento que serve a uma função especial, é claro, mas do mesmo interesse que os canos que serpenteiam sob o piso de uma casa. Mas em 1995, a Microsoft conseguiu fazer o mundano parecer inovador. O "Seattle Times" citou um feliz cliente da meia-noite, acompanhado de sua esposa, que previu que "isto melhorará o nosso casamento".

O Windows XP, lançado em 2001, não conseguiu igualar a estréia notável do Windows 95. Nós podemos torcer para que o sucessor do XP, que tem o codinome "Longhorn" e cujo lançamento está previsto para o próximo ano, desponte discretamente, nos deixando mais próximos do dia em que os usuários não precisarão saber mais sobre um sistema operacional de um PC do que sabem sobre o software presente em um telefone celular.

A gestação do Longhorn já ultrapassou em muito o prazo originalmente planejado. Rumores de sua existência surgiram em 2001, quando foi dito que o sistema tinha sido escolhido como uma rápida atualização "intermediária" do XP. O tempo passou, e a mídia foi autorizada a ver uma prévia. Mas mesmo a conclusão disto, um lançamento interino, demorou.

Determinada a lançá-lo em 2006, a Microsoft decidiu em 2004 remover um novo sistema de arquivos para organização de dados no disco rígido, o que a empresa tinha promovido anteriormente como o coração do novo sistema. Quando e se este elemento aparecerá, dificilmente melhorará o casamento de alguém.

Arrependida de ter anunciado um elemento importante que subseqüentemente teve que remover, a empresa decidiu ficar quieta sobre outros aspectos pelo máximo de tempo possível.

A Microsoft deu aos desenvolvedores de software versões beta de dois novos componentes, para gráficos e serviços de Internet, mas estes também estarão disponíveis para os proprietários do Windows XP. A empresa ainda precisa dizer o que será exatamente uma melhoria exclusiva do Longhorn.

A reticência da Microsoft não poderá durar muito. Em duas semanas, ela será anfitriã de uma conferência de vendedores de hardware, na qual estabelecerá as especificações mínimas necessárias para que o Longhorn possa ser rodado.

Você pode estar ansioso para saber se o PC em sua mesa atenderá as especificações. Se seu PC não atender, é improvável que você o substitua para rodar a mais recente versão do Windows. Michael Cherry, analista sênior para Microsoft da Directions, uma empresa de consultoria com sede em Kirkland, Washington, observou que muitos usuários de PC agora estão tratando seus computadores como aparelhos de TV.

"A menos que a TV não funcione", ele disse, "eles não as substituirão".

Cherry expressou ceticismo quanto ao apelo de melhores gráficos para ele e outros que gastam a maior parte do tempo usando um processador de texto, um programa de e-mail e um browser. "Como gráficos 3D vão de fato mudar minha vida?" ele perguntou.

Outro analista, Rob Enderle, presidente do Enderle Group, saudou o sistema com mais entusiasmo, prevendo que o Longhorn fornecerá "enormes melhorias em segurança".

Nós podemos saudar esta perspectiva feliz, mas ao mesmo tempo temos que ignorar os risos de desdém dos usuários do Macintosh, que ainda precisam saber o que é encontrar um vírus. Independente de quão sólido e seguro possa parecer o código do Longhorn, a Microsoft precisará de muitas vozes independentes que lhe forneçam verificação e garantia.

Os profissionais responsáveis pelos PCs corporativos parecem atualmente desconfiados das promessas da Microsoft, desprezando o mais recente pacote de melhorias de segurança e consertos de bugs oferecido para o Windows XP.

Em 4 de abril, a AssetMetrix Research Labs, uma empresa de pesquisa com sede em Ottawa, divulgou os resultados de uma pesquisa envolvendo 251 empresas norte-americanas, avaliando a adoção do Windows XP. Apenas 7% das empresas implementaram as mais recentes melhorias, o Service Pack 2, apresentado seis meses atrás. As melhorias provocaram problemas de compatibilidade de software. Eles podem ser superados com algum trabalho, mas não sem agravamento e custo adicional para consertos que, desde o início, não deveriam ser necessários.

Problemas de compatibilidade se agravarão no futuro. O Longhorn dificilmente coexistirá em paz com o software existente no sistema operacional. Enderle disse que o maior ganho de segurança exigirá uma ruptura com o software complementar do passado, o que significa que "a compatibilidade sofrerá".

O Windows XP poderá provar ser um tenaz chefe de família, não disposto a ceder lugar para a próxima geração. Apesar dos problemas de segurança, ele é a versão mais estável do Windows até o momento. Tal estabilidade dificultará para a empresa vender o Longhorn como um lançamento mais importante do que o próprio XP, uma previsão que Bill Gates, o presidente da Microsoft, fez em 2003.

As previsões não são boas quando o mundo da computação se move mais depressa do que a massa pesada da divisão Windows da Microsoft. O Linux representa um modelo alternativo, empregando pés ágeis e lançamentos freqüentes.

Mark Lucovsky, um engenheiro de software, descreveu recentemente em seu blog o processo de escrever o código para um projeto como o Longhorn e a longa espera antes que chegue ao PC do usuário.

Primeiro, uma correção de bug ou elemento adicional é depositado em um sistema de controle do código fonte, onde pode ficar por anos. Eventualmente ele é transferido para um lançamento de produto e gravado em CDs. Meses se passam, mesmo no estágio final, do lançamento e produção até chegar ao departamento do cliente. Lento.

Por outro lado, os engenheiros que trabalham nas melhorias para uma nova forma de sistema operacional, o software que serve aos sites na Internet, podem implementar o trabalho quase que instantaneamente. Lucovsky reconta como um amigo na Amazon descobriu um problema de performance, descobriu como consertá-lo, testou e o implementou, tudo em um dia.

"Nenhum cliente teve que fazer o download de um saco de bits, responder perguntas idiotas, provar que não é um ladrão de software, reinicializar o computador, etc.", ele escreveu. "O software foi enviado a eles, e não tiveram que mover um dedo."

Os comentários de Lucovsky são de interesse porque ele sabe algo sobre o desenvolvimento de sistemas operacionais. Ele foi o arquiteto sênior do Windows NT, foi o principal guardião das chaves do código fonte e foi nomeado pela Microsoft, em 2000, como um de seus engenheiros ilustres. Mas recentemente, após 16 anos na Microsoft, ele disse que decidiu que estava errado ao achar que a Microsoft sabia melhor "como fornecer software".

Foram outras empresas, aquelas que perceberam o potencial da Internet e do software como serviço, que melhor conseguiram oferecer benefícios para os clientes "de forma rápida e eficiente", disse ele. Ele pediu demissão da Microsoft e se juntou a uma destas outras empresas: a Google.

original: http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2005/04/10/ult574u5295.jhtm

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