sexta-feira, fevereiro 24, 2006

TV Digital: colocando lenha na fogueira

Estamos no meio de um enorme tiroteio; tudo por causa da definição do padrão da TV Digital brasileira. Ela está provocando uma discussão sem precedentes na história da mídia. Mas não é para menos, pois os investimentos necessários para a completa transformação da TV analógica para digital serão de 100 bilhões de dólares no Brasil, considerando emissoras e usuários.

Quem acelerou a discussão foi o próprio governo, que afirmou que irá definir, ainda em fevereiro, o padrão da TV Digital e marcou o início das transmissões para dia 7 de setembro próximo.

Existem três modelos em avaliação. O ATSC americano, o DVB europeu e o ISDB japonês. No começo das negociações, existiu por aqui, até um quarto modelo, o padrão brasileiro, que foi abortado.

Nosso ministro das Comunicações, Hélio Costa, começou a se posicionar a favor do padrão japonês e criou com isto um sentimento de perda junto aos proprietários dos outros sistemas. Há quem diga que o ministro estava defendendo os interesses das grandes emissoras de televisão brasileiras, mas até algumas delas se posicionaram contra o padrão japonês.

A diferença entre eles é bem pequena, mas o ISDB japonês permitiria a mobilidade e mais do que isto, o roaming da programação.

Aqui acredito que está o cerne da questão; pois se uma geradora operasse por roaming, ela não precisaria, necessariamente, de emissoras afiliadas, pois seu sinal poderia ser captado em todo território nacional. É claro que isto muda todo o modelo da televisão brasileira, mas a convergência da mídia com a tecnologia é isto mesmo; um caos para os processos tradicionais.

Tive o privilégio de promover, como presidente da AMI - Associação de Mídia Interativa, uma palestra em 1999, com o maior especialista do padrão japonês, foi uma palestra no Centro Cultural Itaú, em São Paulo. Lá, vimos que o software japonês baseado no MPEG4 permite mais compressão digital. Muitas emissoras presentes optaram lá mesmo por este modelo.

A complexidade é tal, que a U.S. Federal Communications Commission - a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) dos Estados Unidos - deu um prazo até 2009 para que o sinal convencional VHF das emissoras tradicionais saia do ar. Com isto nenhum aparelho de TV vai pegar os canais de 2 a 13.

A digitalização vai trazer também o t-commerce. Mas para isto, será necessária interatividade que pode se dar de várias maneiras.

E novamente o ministro Hélio Costa nos surpreende, afirmando que o retorno se dará por WiMax. Ora, WiMax é Internet em banda larga na rua. Um projeto idealizado pela Intel e que já conta com a adesão da TVA, que transformará sua antiga TV por assinatura em MMDS, em WiMax. O projeto inclusive conta com investimentos de US$ 100 milhões pela Sansung.

Se a transmissão voltará por WiMax, por que não ir por WiMax? Pessoal, isto seria a chamada IPTV, que o mundo deseja tanto. Observem que o próprio Bill Gates já disse que a TV tradicional vai sair de moda. Ele inclusive propôs recentemente que o FCC abandonasse todos os modelos de TV Digital conhecidos e que assumissem a TV over IP.

Nenhum comentário: