terça-feira, novembro 15, 2005

Criança suja, criança saudável

Segundo os psiquiatras e psicólogos infantis, "uma criança que não brinca, não é uma criança saudável". Os pequenos necessitam viver o caos para encontrar a ordem e explorar o mundo que os cerca, um processo no qual não costumam ficar muito limpos, mas no qual começam uma busca que os leva a consolidar sua identidade, segundo os especialistas.


Segundo os psiquiatras e psicólogos infantis, "uma criança que não brinca, não é uma criança saudável"

Para os especialistas da Associação Internacional pelo Direito da Criança de Brincar (IPA, na sigla em inglês), "a brincadeira é a atividade primordial na infância de todo ser humano. Através desta atividade se desenvolve o amadurecimento, aprende-se, vive-se o risco, cria-se e transforma-se a realidade".

Segundo os especialistas, algumas atividades lúdicas contrárias à higiene como pular em poças d¿água, caminhar pela lama, subir em árvores, brincar com areia, remover a terra para procurar insetos, descobrir "um tesouro" ou deslizar sobre a grama, fortalecem o sistema imunológico das crianças, desde que não representem perigo, certamente.

Eles sustentam que a sujeira que tinge as crianças da cabeça aos pés quando brincam ou fazem esporte, fortalece seu sistema imunológico, aguça seus reflexos, melhora a aprendizagem e favorece que interajam com seus semelhantes. O ser humano cresce cercado de agentes patógenos que causam doenças, como os germes, mas também ajudam o sistema natural de defesa a se desenvolver de forma saudável.

Além disso, sujar-se é a única forma com que os pequenos possam se concentrar nos verdadeiros objetivos da brincadeira e do esporte: explorar, sociabilizar, aprender, concentrar-se, adquirir flexibilidade e integrar-se, entre outros. O doutor Richer reconheceu que até há pouco reagia com uma rejeição diante da palavra sujeira e sua mente de especialista na saúde lhe dizia que a falta de higiene era sinônimo de doenças.

Ele explica que os seres humanos sentem uma natural repulsa perante o sujo e isso é ensinado para as crianças. Mas "nem toda a sujeira é negativa, e inclusive a necessitamos". "Para conhecer as coisas necessitamos tocá-las", defende Richer e isso é o que fazem as crianças ao se aproximarem do mundo, um lugar onde há terra, barro, água suja. Inclusive existe uma hipótese científica segundo a qual aquelas crianças que se relacionam com a sujeira desde cedo desenvolvem mais defesas perante as alergias e outras doenças.

E mais: o efeito que causa na criança não poder se sujar em sua descoberta do mundo é maior, já que assim "perde o benefício da atividade, estará tão preocupado de não se sujar que não aprenderá a brincar", afirmou o especialista de Oxford. Dado que "nos desenvolvemos em um meio ambiente sujo, necessitamos uma estrutura orgânica para poder enfrentá-lo", disse o professor Richer.

Um dos mecanismos de defesa para consegui-lo consiste em evitar todo contato com aquilo que contém elementos patógenos e pode transmitir uma doença, por meio do asco, uma emoção que faz com que nos afastemos daquilo que nos desagrada. Outro meio defensivo é o sistema imunológico, que ataca os agentes que causam infecções e reações alérgicas.

Segundo o especialista britânico, sujar-se com terra do chão e estar exposto a seus micróbios permite que o sistema imunológico os "conheça" sem desenvolver hipersensibilidade. Isto se deve ao trabalho de células defensoras, as células T reguladoras, que sensibilizam ou tornam menos reativo o sistema imunológico.

Além disso, cada vez que uma criança tem contato com o meio ambiente tem sensações que, ao serem processadas, contribuem para o seu crescimento intelectual. Mas às vezes, os pais sustentam um falso conceito do que é a sujeira, evitando que os pequenos entrem em contato com a Natureza, o que vai contra suas necessidades naturais.

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