domingo, abril 15, 2007
Impossível construir o futuro sem a rede ?!
sexta-feira, março 16, 2007
Dicionário inFormal
O Dicionário inFormal é do caralho! Ali não existem definições certas ou erradas, mas definições da vida real para o português.
quarta-feira, janeiro 03, 2007
A língua retrata o que o povo fala ou o que a regra nos impõe?
Experimente: ao longo de uma semana, acompanhe os jornais com outros olhos. Conte quantas vezes a internet é apontada como terreno propício para o exercício do que há de pior no ser humano, do tráfico de drogas à pedofilia. No mínimo, a Rede é descrita como palco para novos costumes bizarros e curiosos, como flertar, ainda que à distância, uma ilustre desconhecida, ou passar dias imerso em uma comunidade virtual como o ‘Second Life’.
Tenho a impressão de que, por pouco, sociedade e mídia não proclamam a internet como ‘criação do demônio’ e seitas mais radicais não queimam computadores e laptops em grandes fogueiras. Ao longe, observando tudo, estaria - em êxtase! - uma multidão de marmanjos, pais de meninos e adolescentes, defensores ferrenhos, entre outras coisas, de que ‘lugar de homem é na rua’…
Esta visão estrábica da internet não surge na mídia e na cabeça dos pais à toa. É como se precisássemos de uma ‘consciência coletiva’ nos alertando sobre o perigo que o ‘novo’, ao mesmo tempo fascinante e ameaçador, oferece - uma versão adulta do Grilo Falante.
É tudo muito assustador: o pânico vai do comércio eletrônico (’vão roubar o número do meu cartão de crédito!’) aos games (’meu filho não vai mais sair de casa!’), dos relacionamentos (’o que vale é olho no olho!’) aos e-books (’preciso pegar nos livros que leio!’). Haja coragem e discernimento para não perder o bonde da história - é preciso confiar na Rede com um olho fechado e o outro bem aberto.
Muitos passam por isso quase todo o dia. Eu, que vivo de (e na) internet, me peguei outro dia numa encruzilhada daquelas.
Sempre fui defensor do uso que os adolescentes fazem do português na web, ao criarem novas palavras baseadas mais em seus sons e menos no que está no dicionário. O que não seria fonte de dor de cabeça para os professores, na minha opinião. Ou seja, o jovem saberia muito bem onde utilizar o ‘vc’ ou o ‘você’. No Orkut, vale o novo; na redação da escola, o que Houaiss e Aurélio fazem questão de nos lembrar, sempre. Seria simples assim.
E foi, no início. Quando o MSN e os ‘torpedos’ ainda não faziam parte do dia-a-dia do adolescente - e da criança, também -, quando a atividade de se comunicar constantemente pela escrita pela Rede ainda era novidade, havia uma clara distinção do que era português e o que era ‘da web’.
Outro dia, ao conversar com duas professoras de ensino médio, fiquei de queixo caído: agora é um Deus nos acuda. As provas vivem inundadas de ‘vc’s, e o mais delicado, elas me explicaram, é que - óbvio - não é de propósito… Mas, o que fazer se é este o português que crianças e jovens usam para se comunicar hoje em dia pela Rede? Dá agonia e uma profunda insegurança. Uma delas, à beira da aposentadoria, disse, brincando, ter saudades ‘de quando a única ameaça à língua era a gíria’ - e nada afetava a escrita.
É hora de parar e pensar, então. No Brasil, a língua portuguesa já passou por mais de uma reforma. Por que ‘pharmácia’ virou ‘farmácia’? Porque ninguém lia ‘parmácia’, oras. Até hoje me pergunto por quê ‘caixa’ não é ‘caicha’, ou vice-versa… Pela regra, apenas? Nosso ‘cadê’ está condenado a ser ‘c-a-d-ê’ por toda a eternidade, ou um dia escreveremos ‘kd vc’?
A língua não retrata o que o povo fala? Ou o que a regra nos impõe?
Mas aí bate o medo do desconhecido, do descontrolado, do que até ontem era absurdo.
Arranquem rápido os computadores dos quartos dos filhos: à fogueira com eles, antes que seja tarde demais. Porque lugar de língua é no dicionário. Ou não?
segunda-feira, dezembro 11, 2006
terça-feira, abril 18, 2006
My Office 2.0 Setup
A lista completa e mais detalhada pode ser encontrada em http://itredux.com/office-20/database/
quarta-feira, janeiro 04, 2006
Pirate Party
O Partido Pirata vai combater diretamente qualquer tentativa ou idéia que ameace o livre fluxo de informação, e se recusará a permitir o "absurdo da retenção de dados" baseada na desculpa de prevenção ao terrorismo ou para atender aos modelos de negócios da Riaa, a indústria fonográfica norte-americana.
O partido, por enquanto, está empenhado em quebrar a barreira dos 4% de votos, equivalente a 225 mil, para conseguir pelo menos uma cadeira no parlamento nas próximas eleições. Para quem entende sueco, a página do partido pode ser vista no endereço www.piratpartiet.se
quinta-feira, novembro 24, 2005
Libertando-se da prisão da internet
Por Theodor Holm Nelson
Para o pai do hipertexto, a informática limita a criatividade e emburrece os usuários
O pessoal da informática não entende os computadores. Bem, eles entendem a parte técnica, sim, mas não entendem as possibilidades. Principalmente, eles não entendem que o mundo dos computadores é totalmente feito de arranjos artificiais e arbitrários.
Editor de textos, planilhas, bancos de dados não são fundamentais, são apenas idéias diferentes que diversas pessoas elaboraram, idéias que poderiam ter uma estrutura totalmente diversa. Mas essas idéias têm um aspecto plausível que se solidificou como concreto em uma realidade aparente. Macintosh e Windows são parecidos, portanto essa deve ser a realidade, certo?
Errado. Apple e Windows são como Ford e Chevrolet (ou talvez os gêmeos Tweedledum e Tweedledee), que em sua co-imitação criam uma ilusão que parece realidade.
O pessoal dos computadores não entende os computadores em todas as suas inúmeras possibilidades; eles acham que as convenções atuais são como as coisas realmente são, e é isso que eles dizem a todas as suas novas vítimas.
O chamado "treinamento em informática" é uma ilusão: eles ensinam à pessoa as estranhas convenções e esquemas atuais (Desktop? Isso parece uma mesa de trabalho? Uma mesa vertical?) e dizem que é assim que os computadores são. Errado.
Os esquemas atuais dos computadores foram inventados em situações que variavam das emergências à academia, e foram empilhados em um conjunto aparentemente racional. Mas o mundo da tela poderia ser qualquer coisa, não apenas uma imitação do papel.
No entanto, todo mundo parece pensar que os projetos básicos estão concluídos. É como dizer: "Espaço, já fomos lá!" -alguns centímetros de exploração e há quem pense que terminou.
Alternativas gráficas
Qualquer tipo de gráfico é possível; mas o termo "GUI", abreviação de Graphical User Interface, é usado para apenas um tipo de interface gráfica do usuário: a visão de ícones e janelas criada na Xerox Parc no início dos anos 70. Há milhares de outras coisas que uma interface gráfica do usuário poderia ser. Por isso não deveríamos chamar a atual interface padrão de GUI, já que não foram examinadas alternativas gráficas; é uma PUI (Parc User Interface), quase exatamente igual à que fizeram na Parc 25 anos atrás.
O mundo em que você está sendo criado tem a aparência de realidade; poderá levar décadas para ser desaprendido. "Crescer" significa em parte descobrir o que está por trás das falsas suposições e representações do dia-a-dia, de modo que você finalmente entenda o que realmente está acontecendo e o que realmente significam ou não as conversas educadas. Mas nossos instrumentos de informática também precisam ser uma mentira que deve ser desaprendida?
A conhecida história sobre a Xerox Parc, de que eles tentaram tornar o computador compreensível para o homem comum, é uma enganação. Eles imitaram o papel e as máquinas de escritório conhecidas porque era isso que os executivos da Xerox conseguiam entender. A Xerox era uma companhia devoradora de papel, e todos os outros conceitos tinham de ser passados para o papel para se tornar visíveis nesse paradigma.
Mas quem se importa com o que a Xerox fez com seu dinheiro? Aquilo era coisa de laboratório. Foi Steve Jobs quem orientou o trabalho da Parc para o mal. Ele pegou uma equipe da Parc e fez um trato com o demônio, e esse trato foi chamado de Macintosh.
Pacto com o diabo
Ainda há milhões de pessoas que acreditam que o Macintosh representa a libertação criativa. Por essa incrível conquista propagandística podemos agradecer à firma de publicidade Regis McKenna, que vendeu o Macintosh para o mundo (a partir do famoso comercial de 1984) como algo que destruía a prisão do PC. Na verdade o Macintosh era uma prisão redesenhada. E a arquitetura dessa prisão foi fielmente copiada para o Windows da Microsoft em cada detalhe.
Imagine que lhe dessem a MTV e em troca tirassem seu direito de votar? Você se importaria? Algumas pessoas sim. É como eu vejo o mundo dos computadores hoje, a começar pelo Macintosh. O Macintosh nos deu fontes bonitas para brincar e ferramentas de artes gráficas que antes eram inatingíveis, exceto nos ricos domínios da publicidade e da produção de livros de luxo. Essas fontes e ferramentas gráficas foram um grande presente.
Mas ninguém parece ter notado o que o Macintosh excluiu. Ele excluiu o DIREITO DE PROGRAMAR. Quando você comprava um Apple II, podia começar a programá-lo desde o início. Tenho amigos que compraram o Apple II sem saber o que era programação e tornaram-se programadores profissionais quase da noite para o dia. O sistema era limpo, simples e permitia que você fizesse gráficos.
Mas o Macintosh (e agora o Windows PC) são outra história. E a história é simples: PROGRAMAÇÃO É SÓ PARA OS "DESENVOLVEDORES" OFICIAIS REGISTRADOS. Os Desenvolvedores Oficiais Registrados, que fizeram acordos com a Apple e depois com a Microsoft, são os únicos que podem fazer a mágica hoje. Isso não é da natureza intrínseca dos computadores atuais. É da natureza intrínseca dos negócios atuais. Negocie com a Apple ou a Microsoft, pague-lhes em dinheiro ou outros favores, e eles deixarão você saber o que precisa para criar "aplicativos".
Esse chamado “aplicativo” foi outro nível do pacto com o diabo. Antigamente, você podia rodar qualquer programa com qualquer dado, e se não gostasse dos resultados os jogava fora. Mas o Macintosh acabou com isso. Você não possuía mais seus dados. ELES possuíam seus dados. ELES escolhiam as opções, já que você não podia programar. E você só podia fazer o que ELES permitissem -os ungidos desenvolvedores oficiais.
Esse novo tipo de aplicativo foi uma prisão, ou talvez devamos dizer um curral. Primeiro você está em UM curral, um primeiro aplicativo, depois eles o levam de ônibus para OUTRO curral, com outro conjunto de regras -um segundo aplicativo. Você pode transferir alguns dos seus dados entre esses aplicativos, mas não serão a mesma coisa. O amplo controle dos eventos que os programadores têm é negado aos usuários.
O mundo atual dos computadores, arbitrariamente construído, também se baseia na simulação de papel, ou WYSIWYG (sigla inglesa para “What you see is what you get” - "O que você vê é o que você recebe").
É aí que estamos empacados no modelo atual, em que a maioria dos softwares parece ser mapeada em papel (WYSIWYG geralmente significa que você receberá o que vê quando IMPRIMIR). Em outras palavras, o papel é o coração da maioria dos conceitos de software atuais.
Esse também foi um legado chave da Xerox Parc. Os caras da Parc ganharam muitos pontos da direção da Xerox ao fazer o "documento eletrônico" IMITAR O PAPEL -em vez de ampliá-lo para incluir e mostrar todas as conexões, possibilidades, variações, parênteses, condicionantes que estão na mente do autor ou do orador; em vez de apresentar todos os detalhes que o repórter enfrenta antes de cozinhá-los.
Uma parte disso também foi a abordagem dos "tekkies" ao comportamento do software. A simulação de papel funcionava bem com a abordagem tekkie. Muitos tekkies têm uma abordagem retangular e fechada das coisas que para outros pode parecer desajeitada, obtusa, analógica.
A visão tekkie é geralmente a mentalidade do trabalhador braçal: primeiro você faz este serviço, depois faz aquele serviço, tudo o que lhe mandarem; os parâmetros são dados e não mudam; e quando você termina o trabalho que lhe atribuíram, passa para o próximo trabalho da lista. Nenhuma dessas restrições tem a ver com o tipo de criatividade que os escritores buscam. Mas a maioria dos tekkies não entende de escrita, ou de palavras.
A suposta natureza dos computadores
Os tekkies não sabem escolher a palavra certa, ou o nome certo. Eles parecem pensar que qualquer nome serve; e aquilo que o usuário escolher o limitará para sempre. Essa torna-se a Natureza dos Computadores. Supostamente.
Uma das conseqüências é o software para escritório -incrivelmente desajeitado, com operações lentas e pedestres. Pense em quanto tempo demora para abrir e dar nome a um arquivo e um novo diretório. Enquanto isso, o software de videogame é ágil, rápido, vivo.
Por que isso acontece?
Muito simples. Os caras que criam videogames gostam de jogar videogames. Enquanto ninguém que cria software para escritório parece se importar em usá-lo, quanto menos pretende usá-lo em grande velocidade.
Não estou falando das "interfaces". Assim que você concorda em falar sobre a "interface" de alguma coisa já aceitou sua estrutura conceitual. Estou falando de algo mais profundo -novas estruturas conceituais que não são mapeadas em papel, não são divididas em hierarquias.
O mesmo vale para as "metáforas", no sentido de comparações com objetos familiares como mesas de trabalho e cestos de lixo. Assim que você traça uma comparação com algo conhecido, é atraído para essa comparação -e fica preso à semelhança. Enquanto se você entrar no projeto de formas livres -virtualidades livres, digamos-, não fica preso a essas comparações.
Houve alguns poucos ambientes que eram abstratos e completamente diferentes de papel. O Canon Cat de Raskin, o HyperCard (em sua época). Meu espaço abstrato preferido é o jogo Tempest, de Dave Theurer, que não parecia com nada que você já viu.
Agora considere a World Wide Web. Apesar de alguns de nós estarmos falando em hipertexto em escala planetária há anos, ela surgiu como um choque quase generalizado. Poucos notaram que ela diluía e simplificava a idéia do hipertexto.
O hipertexto, como foi repentinamente adaptado para a internet por Berners-Lee e depois Andreessen, ainda é o modelo do papel! De suas longas folhas retangulares, adequadamente chamadas de "páginas", só se pode escapar por links de mão única. Não pode haver anotações à margem. Não pode haver notas (pelo menos não na estrutura profunda).
A web é a mesma prisão de quatro paredes do papel que o Mac e o Windows PC, com a menor concessão possível à escrita não-seqüencial ("escrita não-seqüencial" foi minha definição original de hipertexto em 1965) que um chauvinista da seqüência-e-hierarquia poderia ter feito.
Enquanto o Projeto Xanadu, nosso plano original que foi derrotado pela web, baseava-se amplamente em links de mão dupla, por meio dos quais qualquer pessoa poderia anotar qualquer coisa (e pelos quais os pensamentos podiam se ramificar lateralmente sem bater nas paredes).
Ainda mais estranho é o conceito de "browser". Pense nisso -uma visão serial de um universo paralelo! Tentar compreender a estrutura em grande escala de páginas da web interligadas é como tentar olhar para o céu à noite (pelo menos nos lugares onde as estrelas ainda são visíveis) através de um canudo de refrigerante. Mas as pessoas estão habituadas a esse "browser" seqüencial; hoje ele parece natural; e hoje esse browser talvez seja mais padrão do que as estruturas que ele vê e os protocolos cambiantes que as mostram.
Sinto uma certa culpa em relação a isso. Acredito que foi em 1968 que apresentei o projeto completo de Xanadu em duas mãos para um grupo de universidade, e eles o rejeitaram como "delirante"; então eu o emburreci para links de mão única e somente uma janela visível.
Quando me perguntaram como o usuário navegaria, sugeri uma pilha recorrível de endereços visitados. Acho que esse emburrecimento, através dos vários caminhos de projetos que se imitam, tornou-se o design geral de hoje, e realmente sinto muito por minha participação nele.
Chega! Está na hora de algo completamente diferente.
Sistemas de amarras
Acredito que podemos dobrar uma esquina para um mundo de computadores com muito mais liberdade e produtividade, com novas estruturas de forma livre, diferentes do papel. Espero que estas simplifiquem e acelerem muito o serviço dos trabalhadores da prosa (os que usam texto sem fontes, como autores, advogados, roteiristas de cinema, redatores de discursos etc.).
Mas devemos derrubar os atuais sistemas de amarras, aos quais muitos clientes e fabricantes estão ligados. Devemos derrubar o modelo do papel, com sua prisão de quatro paredes e buraco de fechadura -os links de mão única.
Finalmente, devemos derrubar a tirania do arquivo -no sentido de pedaços fixos com nomes definitivos. Embora os arquivos estejam necessariamente em algum nível, os usuários não precisam vê-los, e muito menos precisam dar a seus projetos nomes e localizações imutáveis.
A criatividade humana é fluida, sobreposta, entremeada, e os projetos criativos muitas vezes ultrapassam suas margens (vale a pena lembrar que "King Kong" começou como um documentário sobre a caça de gorilas). É possível que toda a indústria dos computadores seja um bando de imperadores nus? A indústria de software tem um enorme investimento nessa prisão atual. Assim como os "usuários experientes" das "ferramentas de produtividade" de hoje.
Mas os novos usuários de amanhã, não.
Theodor Holm Nelson
É criador do projeto Xanadu e do hipertexto. É professor das universidades Keio e de Southampton. Ele veio ao Brasil a convite do File e da PUC-SP, com apoio do CNPq.
segunda-feira, outubro 31, 2005
Por uma web menos ordinária
NOVA LÓGICA - Para Nelson, organização dos arquivos na computação não pode ser hierárquica. "É um modo ruim de representar as idéias" |
Ted Nelson, criador da teoria de hipertexto nos anos 60, critica os rumos que a rede tomou ao "tentar imitar o papel"
Ainda que ele rejeite publicamente a “criatura”, não há como negar que a World Wide Web deve parte de seu DNA a Ted Nelson. Foram as suas teorias de hipertexto desenvolvidas nos anos 60, na Universidade Brown, que, décadas mais tarde, incentivaram o inglês Tim Berners-Lee a dar forma à rede mundial de computadores como conhecemos hoje.
O problema, acusa o pesquisador americano hoje radicado em Oxford, no Reino Unido, é que Lee não compreendeu direito suas idéias. “A web é uma versão torta da minha idéia original. É uma simulação do papel, uma superfície bidimensional, com muito poucos links, que apontam apenas para uma só direção”, reclama.
Pois a birra não é de hoje. No início da década de 90, poucos meses antes de a WWW vir à luz, Nelson estava muito perto de ver o seu trabalho de quatro décadas, batizado de projeto Xanadu, finalmente decolar.
A sua idéia de conectar documentos eletrônicos a outros por meio de links acabava de ser comprada pela Autodesk, sua equipe trabalhava a mil para terminar o programa, mas ... por falta de dinheiro, a empresa abortou o projeto.
Ainda que o sucesso da web hoje seja dado como certo e irrefreável, aos 68 anos, Ted Nelson continua disposto a botar a "sua" rede de pé. "Eu ainda me sinto com 22 anos, tenho as mesmas idéias de quando tinha 22 anos e as acho boas, apesar de não terem sido aplicadas."
Após atualizar e rebatizar o velho Xanadu como Transliterature – “As pessoas estavam cansadas de ouvir falar em Xanadu”, reconhece –, publicou na última segunda-feira, em seu site um manifesto inflamado pela reconquista e a recolonização do ciberespaço, o qual vê como um espaço das idéias e da literatura, não da tecnologia.
"Os tecnólogos raptaram a literatura – com a melhor das intenções, claro! –, mas agora os humanistas devem reclamá-la de volta”, escreve no artigo, hospedado em http://hyperland.com/trollout.txt.
Em visita ao Brasil a convite do File 2005, para o qual ministra, às 19h30, a palestra
Sua formação básica é em filosofia e sociologia. O que chamou a sua atenção no campo da tecnologia?
Não me interesso por tecnologia. Eu odeio tecnologia. (risos) As pessoas de fora do campo da computação dizem: “Oh, isso é tão excitante, diferente, novo”, mas se está fazendo a mesma coisa há 50 anos. O modo como os computadores trabalham hoje é produto da mente das pessoas que os programaram. São tradições criadas em um lugar chamado Xerox PARC, em 1974 e 1975. Mas o principal é que você sempre manteve os arquivos numa hierarquia. E a hierarquia é um erro. Todos dizem que isso é o básico da computação, que computadores são necessariamente hierárquicos. Isso não é verdade, é algo inventado pelos tecnólogos, que pensam que o mundo é hierárquico. Eu digo que esse é um modo ruim para representar as idéias e os pensamentos da humanidade.
Se essa hierarquia ajudar a organizar informações, que mal há nisso?
Vamos colocar desse modo: os documentos que eu escrevo têm variações e interconexões que não podem ser representadas nos atuais sistemas de computador. Creio que a maioria das pessoas é como eu, mas não posso provar. Então apenas construo da maneira que acho que deveria ser, e vamos ver...
O sr. acaba de lançar um novo projeto chamado Transliterature. Poderia resumir as idéias por trás dele?
A World Wide Web é uma simulação do papel, uma superfície bidimensional, com muito poucos links, que apontam apenas para fora. Acredito que você deveria ter milhares de links de vários tipos em uma página, e todo mundo deveria poder usá-los. O documento seria tridimensional, quadridimensional, qüinquedimensional, animado... Você viu Star Wars? Sabe a cena de abertura, com o texto se movendo na tela? Então, daquele jeito! Matrix você viu? Sabe aquela "chuva" de texto na tela? Poderia ser daquele jeito também. Tudo isso deveria ser possível, e muito mais.
E a tecnologia que temos hoje permitiria isso?
(Pausa) Vamos conversar sobre a palavra ‘tecnologia’. Um sapato é tecnologia, uma frigideira é tecnologia, um copo d'água é tecnologia. Mas a palavra é usada geralmente para se referir ao último gadget. Quando você compra um telefone celular novo, é tão complicado navegar através dos menus... Isso não é tecnologia, é a mente estúpida das pessoas que o desenharam. As câmeras de vídeo hoje são fantásticas, você pode fazer filmes com qualidade de cinema nelas. Mas o problema é lidar com os 300 menus escritos por engenheiros japoneses! O problema não é o quão maravilhosa a tecnologia pode ser. O problema é a comunicação das idéias. E sejam japoneses, americanos ou brasileiros, engenheiros não são muito bons para comunicar idéias.
Voltando à web: mudar só o layout das páginas resolveria o problema?
Não é mudança de layout. É a mudança completa da estrutura do documento. Hoje, eles colocam tudo ali dentro do HTML, e você não pode trazer nada de fora. Pode trazer fotos, mas não texto. E por que não? Porque os tecnológos queriam que fosse assim. Não há razão técnica ou lógica para isso. Esse é um ponto central, junto com a questão do copyright. Existe hoje uma guerra entre os detentores de copyright e as pessoas que querem roubar seu conteúdo. A solução que venho propondo há 40 anos é bastante simples, mas diferente da maneira como as pessoas vêem o problema. Se o seu conteúdo tiver essa permissão, chamada "transcopyright", qualquer um poderá usá-lo em seus documentos online. Todo conteúdo pode ser embaralhado de novas maneiras, mas deve haver sempre uma conexão de volta para o original e assim você poderá cobrar por trecho. Basicamente, você teria o mesmo conteúdo em dois lugares diferentes. No mundo físico, podemos ter apenas cópias e referências cruzadas, mas o mundo dos computadores pode ser construído de acordo com a nossa imaginação. E eu imaginei essa relação chamada "transclusão", que não poderia existir na realidade física. É uma relação literária, não tecnológica.
E quanto tempo até que essa Transliterature se torne realidade?
Na verdade, não sei. Não sei onde vou estar e de onde virá o dinheiro. O que sei é que há muitas pessoas querendo trabalhar em projetos nos quais acreditem. O Transliterature está em open source, os programadores vão aparecer...
quinta-feira, outubro 27, 2005
O futuro dos jornais está na internet, diz Bill Gates
“Em cinco anos, metade das pessoas que hoje lêem jornais impressos migrarão para as páginas de notícias da internet”, previu o co-fundador da Microsoft, em entrevista ao jornal francês Le Figaro.
Em entrevista ao jornal francês Le Figaro, Bill Gates disse estar convencido de que, em cinco anos, metade das pessoas deixarão de lado os jornais impressos para ler as notícias de seu interesse em sites da web. Ele acredita também que o futuro dos livros está em sua distribuição no formato digital.“A qualidade e navegabilidade das páginas online dos jornais será crucial para os meios de comunicação impressos. Os jornais e editoras de livros devem cuidar dessa área, caso contrário perderão leitores”, ele alerta.
Gates revelou ao Figaro que usa a internet para ler vários jornais e quando se depara com um artigo interessante, mas extenso, guarda-o em seu Tablet PC para lê-lo mais tarde.
Sobre a compra da empresa de telefonia pela internet Skipe, pelo site de leilões eBay, o co-fundador da Microsoft acha que foi um bom investimento, mas ressalva que “estamos vivendo um momento parecido com o dos anos 90, em que muitos negócios de internet quebraram por falta de planejamento.
Gates falou ainda sobre o computador de 100 dólares que será lançado em novembro pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Para ele, “um PC que precisa ser ‘alimentado’ durante dez minutos poder funcionar não fará sucesso. A questão do PC mais barato não reside no preço dos materiais, mas no preço de sua conexão à internet”.
Sobre o rival Google, ele esclareceu que “a filosofia deles é organizar toda a informação existente no mundo. A Microsoft não pretende fazer isso. Nosso objetivo é criar as ferramentas para que outras empresas possam realizar essa tarefa. Queremos ser melhor que o Google, sim, mas na busca de dados online”.
terça-feira, agosto 09, 2005
Pai da cibernética critica planos de robô-soldado
"Não sei a quantidade exata de dinheiro, mas considero que entre 60 e 70% do orçamento do MIT estão sendo canalizados para os setores armamentistas e militares dos Estados Unidos", disse Weizenbaum em palestra no Instituto Max Planck de História das Ciências.
"O governo de Washington não apenas utiliza sua capacidade, como também se aproveita da vaidade de nossos cientistas que se vêem seduzidos pelo projeto e inflam seus egos quando se sentem próximos ao poder", criticou Weizenbaum na conferência "Cientistas entre a guerra e a responsabilidade", para marcar o 60º aniversário dos bombardeios atômicos americanos em Hiroshima e Nagasaki (Japão) em 1945.
O governo dos Estados Unidos se propõe a criar até 2015 um robô com maior poder destrutivo e a um custo de apenas 10% do de um soldado humano. "Muitas vezes meus alunos me perguntam sobre o que fazer nestas situações, e eu lhes digo que reflitam profundamente sobre os objetivos daquilo que estão estudando e experimentando; antes de apertar o botão para pôr em marcha um projeto meditem sobre os resultados que pretendem alcançar", disse Weizenbaum.
"No entanto, o projeto belicista de Washington é tão fascinante para os cientistas - aquele que Robert Oppenheimer (projeto atômico Manhattan de 1945) chamava 'ciência doce" ("sweet science") - e o pagamento é tão satisfatório, que poucos resistem à tentação", lamentou Weizenbaum.
Joseph Weizenbaum nasceu em Berlim no ano de 1923, e em 1936 teve que emigrar com sua família, de origem judaica, para os Estados Unidos fugindo do regime nazista de Adolf Hitler. Nos Estados Unidos, já como estudante, Weizenbaum teve a oportunidade de assistir a uma palestra do cientista Albert Einstein, que também havia fugido da Alemanha no final de 1932.
"Desde então, e desde que Einstein assinou a declaração contra o armamentismo junto com o matemático e filósofo Bertrand Russell, em 1955, me converti em cientista dissidente, o que sou até hoje", afirmou o pacifista americano.domingo, março 27, 2005
Fundador da web ataca obsessão com direitos autorais
A declaração foi feita durante a Emerging Technologies Conference (Conferência de Tecnologias Emergentes) do Massachussets Institute of Technology (MIT). Berners-Lee, diretor do World Wide Web Consortium, disse que as barreiras para o desenvolvimento da Web são sociais tanto quanto tecnológicas.
Segundo ele o próximo stágio da web será melhorar os métodos que os computadores usam, o que será impossível enquanto as epresas segurarem as patentes de programana esperança de ficarem milionárias com os direitos autorais. O palestrante colocou ainda que é de suma importância um acordo para adoção de padrões de comunicação entre computadores e armazenamento de conteúdo online.
original: http://www.magnet.com.br/bits/mercado/2004/09/0057
sexta-feira, junho 11, 2004
Sobre o comportamento de brasileiros no Orkut
Eu odeio os brasileiros malas do Orkut. É. Eu odeio.
Mania de brasileiro achar que americano não liga para nós e que isso está errado. Você sabe qual a capital da Albânia? Não? Pois é. Nós brasileiros não damos a mínima para os albaneses. Se um dia tiver amigos lá, vou tratar de me informar um pouco mais (provavelmente, até terminar de escrever isto eu já terei dado uma espiada em alguma enciclopédia para ver qual é a capital da Albânia).
Nos últimos dias eu tenho visto um aumento pronunciado no nível médio de estupidez na net. As pessoas são, no geral, estúpidas - eu não tenho ilusões a esse respeito desde minha adolescência. Meu maior problema é que, quanto mais estúpida a pessoa, mais barulhenta ela é - mais comunidades cria, mais mensagens posta, mais barulho faz. A cada estúpido barulhento que eu vejo, minha fé na humanidade morre um pouco. Isso eu não perdôo.
E quanto mais barulho os brasileiros estúpidos fazem, menos as pessoas (eu inclusive) gostam dos brasileiros em geral.
Isso vale para todos os povos, a propósito. Outra hora eu traduzo o texto pro inglês para que estúpidos barulhentos de todo o mundo possam lê-lo.
O Orkut é ruimOutro dia vi um imbecil (não posso dar outro adjetivo sem mentir) reclamar que as estatísticas do Orkut não são divididas por estado no caso do Brasil.
Poupem-me, por favor.
Eu não sei de cor os nomes dos departamentos da Argentina (já acho que sei muito por saber que é assim que eles chamam os "estados" deles) e metade do meu carro foi feito lá. Do Japão, eu só lembro das ilhas de Hondo e Hokaido. Meu telefone foi feito na França e eu nem sabia que valia a pena economicamente fazer celulares lá. Eu não saberia dizer os nomes de 20% dos estados dos EUA (e eu converso com um monte de gente que mora lá). Porque diabos eles têm que saber os nomes dos estados brasileiros? Quem, além de brasileiros, se interessa por isso?
Ah... Mas somos a segunda maior comunidade do Orkut.
E daí? O que é que eles têm com isso? Que bom que somos – sinal de que temos muitos amigos (ou que somos menos seletivos), de que somos um povo saudável, de que cultivamos as virtudes da amizade e da cortesia e que gostamos, de verdade, do nosso próximo. Bom para nós.
O que não dá é ficar cobrando que um serviço gratuito (alimentado pelos seus dados) se desdobre para acomodar as necessidades de uma população específica. O Orkut (site) é do Orkut (pessoa) e ele faz com ele o que bem entender. Ele e seus padrinhos corporativos (o povo do Google) já fazem bastante mantendo a coisa de pé. O Orkutês
Qual a língua do Orkut? Assim, a primeira vista, eu diria que é inglês. As interfaces estão em inglês, os botões estão em inglês – tudo, exceto as mensagens, está em inglês.
Alguns americanos gostam de reclamar do número de comunidades com mensagens e títulos em português. Quando eu procuro alguma informação, eu procuro algo em alguma língua que eu entenda. Quase todos nós (os que me lêem ao menos), entendemos um pouco, pelo menos, de inglês. É a segunda língua de quase todos os povos. Justo ou injusto, bonito ou feio, é um fato da vida. Coitadinhos dos americanos (e de mais meia dúzia de países) que só falam uma língua. O fato de existirem comunidades em alemão não me incomoda, embora eu seja tão fluente em alemão quanto um orangotango. Eu respeito e acho absolutamente normal que os alemães prefiram escrever em sua própria língua. Eu, por exemplo, escrevi esse texto em português, que, embora não seja a primeira língua que eu aprendi, é aquela em que eu me expresso melhor.
De qualquer modo, o fato de existir uma língua na qual podemos todos nos comunicar, é extremamente significativo e é um passo na direção certa. Não me importa se é inglês, esperanto ou klingon. A língua é uma ferramenta. Se eu quero falar com pessoas de vários países ao mesmo tempo, eu uso o inglês – as chances de ser entendido serão maiores e ser entendido é o que eu quero. Se eu precisar falar com um bando de fãs de Star Trek, por exemplo, klingon seria uma segunda opção.
As comunidades
Os brasileiros também parecem adorar criar comunidades. Isso é um porre. O cara é convidado pro Orkut (devia dar para ver quem chamou esses malas), se cadastra na comunidade "Brasil" (ou fica amigo de um daqueles carentes "eu quero ter um milhão de amigos") e manda uma mensagem para todos na comunidade (ou pior, para os amigos dos amigos, todos os 100 mil) dando conta da importantíssima e absolutamente única comunidade dedicada a falar daquele assunto que o fascina profundamente (e que não interessa a mais ninguém).
E depois o cara ainda me chama de mal-educado (ou nazista) quando eu conto para ele o que a essa altura não deveria ser novidade – que ninguém mais no mundo se interessa por aquilo e que ele, felizmente, é o único ser humano desperdiçando tempo com aquilo.
Xenofobia e ressentimentos
Eu não entendo o que Bush tem com tudo isso.
É esquisito, mas ele (e os militares mal-comportados) sempre acaba no meio dessa discussão. O homem é um imbecil. Isso não quer dizer que o povo todo do país dele seja – embora terem permitido que ele fosse eleito não fala muito a favor deles. O fato é que não se pode colocar todo um povo no mesmo saco que seu líder. Acidentes acontecem e ele é um. Eu ainda não decidi se ele é um imbecil bem-intencionado, um imbecil mal-intencionado ou um imbecil sendo manipulado por alguém muito mal-intencionado. Tomei a liberdade de descartar de antemão a possibilidade dele não ser um imbecil: eu não consegui me fazer acreditar nela.
Muitos americanos parecem ter medo do resto do mundo. Pudera – não conhecem. Para eles nós somos os atrasados, os esquisitos, os populistas, os socialistas, as republiquetas encravadas na selva.
A melhor forma de se combater o medo é com a informação. E nós não estamos ajudando em nada.