Uma das maiores batalhas entre dançarinos de rua, a Red Bull BC One agita o Memorial da América Latina no fim de semana
Alex José Gomes Eduardo, mais conhecido por Pelezinho, nasceu há 24 anos na cidade de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Sempre gostou de jogar futebol, estudou até a 8ª série e trabalhou como office-boy. As performances acrobáticas que realiza há cerca de 11 anos como b-boy (dançarino de break, na denominação em inglês) renderam-lhe o 4º lugar no ano passado em uma das maiores batalhas entre dançarinos de rua do mundo, o Red Bull BC One, que chega ao Brasil pela primeira vez amanhã, no Memorial da América Latina.
Jorge André de Lima Gonçalves Curado, o Muxibinha, de 17 anos, assistiu à atuação de Pelezinho em alguns vídeos. 'Eu cresci o olho também', diz, na gíria, o brasiliense que dança desde os 9 anos. 'E pensei comigo mesmo: eu também posso', completa. Pelo fato de a 3ª edição do evento ocorrer no País pela primeira vez, Muxibinha deduziu que haveria uma vaga a mais para um brasileiro. Dito e feito. Após participar de duas etapas eliminatórias - uma regional em Brasília e outra nacional em São Paulo -, ele foi o 'outro' brasileiro selecionado para representar o Brasil e brigar pelo prêmio de US$ 6 mil com outros 15 dançarinos considerados os melhores de todos os cantos do mundo.
Vindo de Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal, Muxibinha vem dividindo o seu tempo entre os estudos do 2º ano do Ensino Médio e um treinamento intensivo de saltos, giros pelo ar e no chão, 'com a consciência de que vou disputar com os melhores do mundo.'
Muita pressão por serem brasileiros e disputarem no País? 'Eu estou mais tranqüilo, pois já é a segunda vez que estou participando da batalha, já imagino como vai ser', diz Pelezinho. 'Eu digo para o Muxibinha que ele não precisa mostrar nada para ninguém, todos sabem que daremos o melhor.' Muxibinha, bem menos expansivo que seu companheiro de 'luta', mostra-se um pouco mais apreensivo com essa nova vida cheia de holofotes, saída das ruas do Planalto Central para o palco que será televisionado no mundo inteiro.
Uma arena com capacidade para 1.200 pessoas foi especialmente montada na frente da biblioteca do Memorial da América Latina. Mais especificamente, ela está localizada em cima da Mão, escultura de Oscar Niemeyer, cuja palma possui o mapa da América Latina desenhado em vermelho. De cada lado da Mão, sairão dois combatentes por vez, que apresentarão suas performances ao ritmo do som comandado pelo DJ de breakdance Woodo.
Devido ao número reduzido de lugares, restrito pelo Departamento de Controle do Uso de Imóveis (Contru), e com ingressos esgotados nos dois primeiros dias de venda, o local pensado pela organização para sediar o evento não foi por acaso: nas duas enormes paredes brancas da biblioteca do Memorial serão projetadas, ao vivo, as imagens da batalha entre b-boys gratuitamente. É torcer para o fim de semana continuar lindo.
No formato 'morte súbita', cuja disputa quem perder estará fora do campeonato, os 16 b-boys vindos do Peru, Rússia, Estados Unidos, Coréia do Sul, África do Sul, Japão, Alemanha, Filipinas, México, Venezuela, Brasil e França vão se enfrentar aos pares. Os quatro primeiros vencedores da edição passada, ocorrida na Suíça, foram automaticamente classificados para esta edição: o francês Lilou, que ficou em 1º lugar; o sul-coreano Hong 10, que alcançou o 2º; o americano Ronnie, em 3º; e o brasileiro Pelezinho, em 4º. Todos eles têm uma característica em comum: são baixinhos. Pelezinho e Muxibinha, por exemplo, têm 1,62 m cada um.
A batalha, que apresenta um dos quatro elementos do hip-hop (os outros três são o MC, o DJ e o grafite), também terá o charme das mulheres numa disputa entre b-girls brasileiras e espanholas, além de uma exposição de grafite.
(SERVIÇO)Red Bull BC One. Memorial da América Latina. Avenida Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda, tel. 3823-4600. Amanhã, 19 horas. Ingressos esgotados